29 de agosto de 2006

A finesse da rentrée

Plutão, pasme-se, já não é um planeta, é um arremedo! Despromovido à liga de honra por falta de vitórias, insuficiêndia de pontos e excesso de golos sofridos. Com pior imagem desportiva do que o Belenenses e o Gil Vicente juntos, ambos convenientemente apupados na lota de Matosinhos com impropérios e socos no baixo ventre. Portugal deixou de ser o minúsculo rectângulo verde, debruçado sobre o mar que se esparrama a ocidente. Segundo projecto das sumidades Siza e Moura é apenas um paralelo de granito encavalitado no cabo da Roca, em equilíbrio instável, desafiando as leis da física, a consolidação das contas públicas e o envio de tropas para o Líbano. Não é um país, nem o foi, nem o será. Portugal é um exército maltrapilho, uma tropa fandanga, um ignorado e valente soldado Chveik armado de vassoura e cantil que não tem a altura mínima exigida a um candidato a polícia-sinaleiro. Que comanda, descomanda, obedece, desobedece, negoceia em batatas, passa à reserva, vira empresário de sucesso e dono da bola. Portugal é um escarro, verde da tísica, vermelho da hemorragia, mais vermelho que verde, febre, hemoptise, dispneia e suores nocturnos, diga trinta e três, salve Manuel Bandeira!

Portugal é o Doutor Vasco Pulido Valente fazendo campismo a uma mesa do Gambrinus, comendo camarões de Moçambique, calibre 20, e deixando a lagosta para os refundadores da direita, da monarquia, dos comentários televisivos das segundas-feiras e da Avenida dos Aliados, no Porto. Portugal não é uma anedota porque, mesmo velho, o senhor Raúl Solnado tem muito mais piada que o país e o largo do Rato. Portugal é uma distante ilha do Pessegueiro, atrasada e inóspita, pronta a ser invadida por uma horda de bárbaros vindos de ocidente a cavalo em canoas trazendo ao leme o heroico beato Alberto João. Portugal é o engenheiro Sócrates jágoverno, feito de caliça e pau a pique, promovendo passaportes, complicando o simplex, estudando manuais de regressão linear e legalizando meia dúzia de emigrantes brasileiros que rentabilizam a indústria do churrasco. Portugal é o salário mínimo exportado para África nos bolsos da comitiva do primeiro-ministro, o conselho superior de defesa nacional convocado sem dúvidas nem enganos para decidir o decidido, esconder o escondido, preservar a virgindade das prostitutas na pre-reforma. Portugal é isto, mais os Drs Marques Mendes, Paulo Portas e Manuel Monteiro sem representação parlamentar e sem crédito no telemóvel para o envio de sms... Que, como as iniciais indicam, quer dizer serviço de mensagens curtas...

2 de agosto de 2006

A montanha pariu um rato

E a montanha é, neste caso concreto, o ministério das finanças e o seu muito respeitável titular, Teixeira dos Santos de seu nome, segundo parece. O rato, por outro lado, é a puta da lista de devedores que o sítio oficial do ministério exibe desde ontem. Segundo especialistas em análises do género a lista inclui 288 nomes, entre contribuintes individuais e sociedades. Uma décima milionésima parte de um reles cagagésimo, tomando em consideração a população residente no país que, segundo o resultado definitivo do censo de 2001, era de 10.356.117 indivíduos. Na qual, e apesar das enfadonhas viagens por inadiáveis motivos profissionais, se presumem incluídos o major Valentim Loureiro, o seu filho João, o presidente do Sport Lisboa e Benfica, a ex-namorada do senhor Jorge Nuno Pinto da Costa e o Dr. António de Almeida Santos na dupla condição de aposentado e de eterna reserva moral da pátria.

O país pode, portanto, dormir tranquilo e as vergastadas semanais do Dr. Vasco Pulido Valente não terão outro efeito que o de uma relaxante massagem ministrada num centro legalmente licenciado, inscrito na direcção dos impostos e com as suas obrigações fiscais em dia. Dos individuais apenas 15 devem, segundo os assessores do respeitável ministro, mais de 1 milhão de euros, o equivalente a cerca de 200 mil contos, verba insuficiente para suportar um ano do justo e esforçado salário do senhor Simão Sabrosa ou para comprar mais que dois apartamentos de 3 assoalhadas na marginal do Douro. Das sociedades, mesmo com a economia em crise como avisadamente tem referido o Dr. António Perez Metelo, apenas 5 devem mais de 500 mil mas menos de 1 milhão de euros. O que evidencia à saciedade que as empresas têm dificuldades financeiras, despedem pessoal e encerram pelo simples e linear facto de cumprirem as suas obrigações fiscais.

Pergunta inútil por desnecessária, porque toda a gente deve fazer valer os seus direitos, antes que os mesmos sejam definitivamente extintos. A montanha também tem direito a licença de parto? Ah, se tem o senhor ministro não seja lorpa e utilize as horas a que tem direito para aleitação. A lista poderá assim crescer saudável e feliz, que o leite materno é sempre outra coisa. E vai ver que isso ainda pode levar à descoberta de um qualquer Mário Jardel, na situação de pre-reforma, a dever também mais que um milhão de euros. Laboriosamente investidos no consumo de bebidas alcoólicas das melhores proveniências e na frequência de casas de meninas das melhores famílias!