12 de março de 2012

Preços dos combustíveis


Notícia do dia, hoje, é o aumento anunciado dos preços dos combustíveis esta semana. É acontecimento para destaques nas primeiras páginas dos jornais, nas notas de abertura dos noticiários radiofónicos e dos telejornais. Mas notícia não é, naturalmente, o aumento do preço dos combustíveis dia sim, dia sim ou, remotamente, dia sim, dia não. Porque de facto os combustíveis não aumentam as vezes em que isso é noticiado. Se assim fosse estaria na miséria o senhor Américo Amorim, industrial da rolha e apreciador inveterado da fogaça.

Conforte-nos o facto de sabermos que, com honestidade, os preços são estabelecidos com o mesmo rigor rigoroso com que Pedro Álvares Cabral navegou para a Índia. Tanto assim é que as petrolíferas têm ao seu serviço os guarda livros e os economistas mais capazes do continente que, se repararem bem nos painéis com que José Sócrates decorou as bermas das autoestradas, acertam cientificamente até ao milésimo do euro. Que é uma coisa que pura e simplesmente não existe e que acabou sendo inventada por um génio como o professor Pardal ou o Dr Catroga, a bem da concorrência, da dita lei da oferta e da procura, do cliente e da ganância sem regras do vale tudo.

7 de março de 2012

RTP – 55 anos


«A Radiotelevisão Portuguesa iniciou a 7 de Março de 1957, faz hoje 55 anos, as emissões regulares directas dos seus estúdios na Alameda das linhas de Torres. […] Antes de entrar no grande estúdio, para emissões directas de teatro, variedades, bailados, concertos, etc., onde se movimentavam numerosas máquinas, captadoras de imagens e de som, registadoras, fiscalizadoras, transmissoras, a locutora era cuidadosamente preparada por uma cabeleireira e por um caracterizador, que trabalhava com dois ajudantes; e, depois, sentava-se, sorria, tomava as atitudes que lhe sugeriam, pronunciava as frases que lhe entregavam escritas. E a assistência estava a vê-la, ao mesmo tempo, no ecrã de um aparelho receptor e em carne e osso…»

[In Diário de Lisboa nº 12302, de 7 de Março de 1957]

Graças è efeméride o ministro Relvas está em festa e estreou para o dia principal da celebração um fato cinzento e uma gravata em tons de vermelho, adquiridos a semana passada nos saldos do Rosa e Teixeira. E esta manhã apresentou-se à hora combinada nos estudios daquela televisão, depois de uma dúzia de batedores ter aberto caminho ao seu motorista, conhecido pelo Fittipaldi de Santo António dos Cavaleiros. Assistiu, perfilado como se fosse um escuteiro, ao içar da bandeira da televisão, ladeado pelos membros do conselho de administração que exibiam cartazes exigindo o pagamento imediato de dois meses de salários em atraso. Aproveitou ainda a ocasião para anunciar que não faz nenhum sentido a guerra de audiências que empresas especializadas, pagas ao nível dos juros cobrados pelo FMI, se ocupam a medir com rigor, utilizando fitas métricas de boa marca e melhor proveniência, algures no vale do Reno. E, como se sabe, o metro é, ou era, a décima milionésima parte do quarto do meridiano terrestre. Com o rigor da austeridade do governo e aproximação ao décimo de milímetro!

5 de março de 2012

Apagão


Apagão é uma palavra composta por seis letras, quatro vogais e duas consoantes, que eu pensava que não existisse a não ser na linguagem erudita dos politólogos, dos profissionais da bola e da oposição ao acordo ortográfico. Mas o dicionário Porto Editora de 2010, que consultei, e que já inclui o acordo, diz-me que a palavra existe e que significa “interrupção provisória do fornecimento de electricidade a uma dada região”. O que me deixa mais descansado e em condições de a poder utilizar, no exterior do estádio da luz, sem ironia, especialmente depois da noite da última sexta feira.

Para agradecer aos meus amigos que, durante o apagão de que fui vítima durante coisa de uma semana, se preocuparam comigo e me deixaram seguramente convicto de que, quem tem amigos, não morre na cadeia. E para afirmar que, passados uns dias com alguns problemas de saúde, estou bem ou em vias disso. Muito obrigado de novo. O mau génio e a ironia, ou a sua miragem, convalescem. Para, como o Fântomas, voltarem ao local do crime na primeira oportunidade...