21 de julho de 2012

A estatura menor da classe política



José Hermano Saraiva morreu ontem e foi enterrado hoje. Este curto intervalo bastou para trazer à superfície a estatura menor da nossa incrível e ignóbil classe política. Neste mesquinho país de Eça houve quem logo confundisse toucinho com velocidade, que o mesmo é dizer história com política. O que antes de tudo se invejou em José Hermano Saraiva foi a sua excecional capacidade de comunicação e de transmissão de conhecimentos. Muitos tivesse havido como ele, em português e em matemática, por exemplo, e outros teriam sido os resultados àquelas disciplinas. Mas a mediocridade sempre detestou tudo, desde que pelo menos fosse suficiente. Por exemplo, a pretexto do rigor histórico, como se a história fosse uma ciência exata e o seu rigor se pudesse medir com a precisão de um cronómetro suiço.

Depois pelas opções políticas, que sempre assumiu, sem procurar a unanimidade. E, lembre-se, opção política não tem que ver com inteligência. Pelo menos nunca ouvi dizer que os dirigentes do III Reich, enforcados em Nuremberga, fossem simultaneamente criminosos de guerra e atrasados mentais. Algumas figuras públicas menores, como Alberto Martins, protagonista de um conhecido incidente ocorrido em Coimbra quando Saraiva era ministro da educação, escusou-se a pronunciar-se sobre a morte do homem. Como se lhe pedissem um voto político. A discordância do Dr Alberto Martins não é, asseguro-lhe, menor do que a minha. Mesmo que eu pergunte que dívidas, se algumas, tem o país para com ele enquanto político, deputado e ministro. Sabendo-se antecipadamente que nenhumas, bem pelo contrário.

De resto poderia José Hermano Saraiva defender um tiranete como o Dr Salazar. Ditador e inteligente, diga-se ao intrépido Martins. Como acontece com muitos que se sentam em São Bento e que se dizem do centro, do centro-direita, mas nunca tiranetes ou aspirantes. Neste país até o Dr Alberto João, o da Madeira, é um democrata, pelo menos enquanto não houver um mínimo de bom senso, e se conceda a independência à ilhota. Apenas porque se diz que foi eleito. Como Putin ainda recentemente o foi na Rússia, para apoiar o regime democrático da Síria!

20 de julho de 2012

Estradas de Portugal, SA



Português que é português estudou em colégio de padres, fez a primeira comunhão, embebedou-se muito novo, ganzou-se quase na mesma altura e foi omnisciente quando mal lhe despontavam dois enfezados pelos de barba. Chegado aos dezoito anos a lei considerou-o adulto, deu-lhe aquilo a que chamam a obrigação cívica de votar e o direito, por vezes conveniente, de ser eleito. Membro de uma junta de freguesia, de uma vereação, deputado. Ambicioso, dá o cu e oito tostões por uns momentos de glória, pela celebridade e pela fama, sendo vizinho dos famosos da linha, como o respeitável senhor Castelbranco ou a sua enrugada amiga Lili Caneças. Aparecendo por breves segundos que seja num qualquer inqualificável programa de televisão, pronunciando-se seja sobre o que for, com a convição própria dos ignorantes e dos imbecis.

Ontem de manhã um senhor de fato a cheirar a novo e de gravatinha ao pescoço foi a um dos canais de televisão falar de uma empresa fictícia que dá pelo nome de Estradas de Portugal onde, como seria de supor, tudo está bem e onde nunca se falou de roubos, desvios ou corrupção, porque a empresa é continuamente “escrutinada” (o termo é dele) e, sob sua palavra de honra, vai continuar a sê-lo. A única coisa que falta é dinheiro. Para o que é essencial e prioritário, como aumentar os vencimentos dos administradores, trocar-lhes os automóveis de serviço, aumentar-lhes os limites dos cartões de crédito, inscrevê-los em congressos internacionais a realizar em países que tenham estradas que levem a estâncias de veraneio. E para o que é acessório, como a construção de mais duas pontes sobre o Tejo, quatro sobre o Douro (além daquelas que se propõe erigir o bacano ainda presidente da Câmara de Gaia) e mais duas auto estradas que liguem Lisboa ao Porto.

O mesmo senhor apenas tem dúvidas sobre quem deve pagar tão patrióticos investimentos para o futuro do país e para a independência nacional: se o contribuinte, se o utilizador. O que me clarifica uma ignorância antiga, que julguei contribuintes todos os utilizadores e todos os contribuintes potenciais utilizadores. E adianta as razões! Tudo porque a geração dos nossos pais (cabrões!) não deixou dinheiro para investir e a dos nossos filhos já não pode herdar mais encargos (mariconsos!), mesmo com a esperança matemática de vida de 100 anos. Pelo que restamos nós, os mesmos de sempre! Porque para o esclarecido senhor, como diz a graçola brasileira, “pimenta no cu do outro é refresco no dele”.

10 de julho de 2012

O exemplar Dr. Relvas



O Dr. Relvas, ao que parece ministro, é um incrível exemplar da espécie humana. Desde logo diferente de Hulk porque, mesmo sendo boneco animado com a energia das pilhas Duracell, não chuta com nenhum dos pés, não está convocado para as olimpíadas de Londres e não tem uma cláusula de rescisão de cem milhões de euros que acautelem os interesses do Sr. Pinto da Costa e de alguma das suas namoradas, porventura mais exigente quanto à qualidade do leito conjugal.

O Dr. Relvas, em boa verdade, não é apenas um exemplar. É mais um somatóro de exemplares. Ainda no século passado parece ter-se matriculado algures, numa qualquer faculdade de direito, onde completou brilhantemente uma cadeira com a elevada nota de dez valores. Depois deu de partido a todos os seus colegas, todos estes anos intermédios. Para lhes provar que, como moço de forcados num grupo de Tomar, adquiria experiência profissional suficiente para completar uma licenciatura num ano, dar aulas a doutores (da mula ruça), saber as inclinações sexuais de algumas jornalistas e ser o todo poderoso titular da uma pasta ministerial da Falta de Vergonha e de Virtude.

Agora, nos últimos dias, tem tido a presunção de ser o engenheiro Virgílio Alves dos Reis do século XXI (vinte e um em numeração romana, para esclarecimento de sua excelência). Com a desvantagem de ser menos inteligente, embora mais chico esperto. Menos brilhante, embora mais desenrascado, habituado a pular barreiras nas largadas de touros das ruas do Ribatejo. Até porque aquele andou por Angola, exibiu cartas de curso com elevadas classificações, sonhou projetos, falsificou notas de banco e viu o Banco de Portugal (ainda sem o igualmente incrível Dr. Vítor Constâncio) vir a terreiro para garantir que eram mais verdadeiras do que as verdadeiras. E, em pleno julgamento, os meretíssimos juízes não hesitaram em lhe reconhecer a superioridade intelectual e o trataram reverentemente por “vossa excelência”.

O incrível Dr. Relvas não tem conseguido mais do que ser vaiado à chegada a algumas juntas de freguesia ou entusiasticamente aplaudido nos passos perdidos  pelo Dr. Guilherme Silva, um clone de sucesso da ovelha Dolly e do Dr. Alberto João. Embora vestindo nos saldos do Rosa e Teixeira!