7 de novembro de 2003

Eça de Queiroz, Junho de 1871

i>O País perdeu a inteligência e a consciência moral. Os costumes estão dissolvidos e os caracteres corrompidos. A prática da vida tem por única direcção a conveniência. Não há princípio que não seja desmentido, nem instituição que não seja escarnecida. Ninguém se respeita. Não existe nenhuma solidariedade entre os cidadãos. Já se não crê na honestidade dos homens públicos. A classe média abate-se progressivamente na imbecilidade e na inércia. O povo está na miséria. Os serviços públicos vão abandonados a uma rotina dormente. O desprezo pelas ideias aumenta em cada dia. Vivemos todos ao acaso. Perfeita, absoluta indiferença de cima a baixo! Todo o viver espiritual, intelectual, parado. O tédio invadiu as almas. A mocidade arrasta-se, envelhecida, das mesas das secretarias para as mesas dos cafés. A ruína económica cresce, cresce, cresce... O comércio definha. A indústria enfraquece. O salário diminui. O Estado é considerado na sua acção fiscal como um ladrão e tratado como um inimigo.

Em Uma Campanha Alegre. Com ligeiras alterações ou mesmo sem alterações nenhumas, poderia ter sido escrito hoje, tão actual se mantem o seu conteúdo. É um certificado de quanto evoluímos em mais de 130 anos. É obra!

0 Comentários:

Enviar um comentário

Subscrever Enviar feedback [Atom]

<< Página inicial