12 de dezembro de 2003

As vacas loucas e o governo

Ainda há poucos minutos, no telejornal da RTP-1, ouvia que estatísticas agora divulgadas indicavam que o número de casos da doença das vacas loucas detectado este ano é superior ao do ano anterior. O que, naturalmente, significa um crescimento e um agravamento da situação. Se a aritmética geral ainda é a que me ensinaram, se este ano se contaram, por exemplo, 200 casos e no ano anterior apenas 100, isto quer dizer que este ano houve mais casos do que no ano passado. A menos que mais uma reforma do ensino, com as portas das universidades fechadas a cadeado e obstruídas por camiões de grandes dimensões, tenha alterado a lógica das coisas e 200 tenha passado a ser menor do que 100. Como não acompanho muito estas coisas e já não ando na escola não sei a resposta a esta minha dúvida. Eu gostaria muito que fosse o senhor engravatado, presente em estúdio, e que julgo ser governante a avaliar pelo brilhantismo do raciocínio, a esclarecer-me. Mas nem fixei o nome dele, nem lhe sei a morada ou o cargo, nem provavelmente ele me daria resposta. À semelhança do comportamento que usualmente assume a maioria dos serviços públicos que nos asfixiam e que nós adoramos. Tanto tempo passamos nas suas instalações, muitas das vezes para coisa nenhuma.

Mas então justificava-se o dito senhor. Dizendo que não tinha nada aumentado o número de casos, pelo contrário, a redução continua a verificar-se, lenta mas segura, desde 1999. O que aconteceu é que houve mais fiscalização, fizeram-se mais visitas, deslocaram-se a mais locais e contaram mais casos. Mas a contagem não vale porque é resultado de terem ido a muito mais explorações, visto muito mais vacas aos tombos e, naturalmente, feito apontamento disso. Isto quer dizer, nem mais nem menos, com a mesma transparência invocada para a constituição da Fundação Minerva, ou para a Universidade Lusíada, ou para o presidente da dita fundação, ou para o reitor da citada universidade, que se não tivesse havido fiscalização nenhuma não teriam sido recenseados casos nenhuns. E sem nenhum caso a doença estaria pura e simplesmente erradicada, como transparentemente se compreende. A Dra Manuela pouparia mais uns cêntimos com o pessoal, dispensando fiscais desnecessários e inúteis. E nós todos, alegremente e sem receio, poderíamos voltar ao velho hábito tão português do bife com batatas fritas e ovo a cavalo. Se os aumentos que a Dra Manuela autoriza permitissem que ainda fossemos ao talho!


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