Uma curta reflexão
Espanta-me este verrinoso afrontamento em que reciprocamente se consomem as autoproclamadas esquerda e direita políticas da blogosfera e do país. Porque, há que reconhecê-lo, o tempo as foi esvaziando rapidamente de ideias e, mais lentamente, de sentido.
Creio, por mim, que a direita faz por estar e por se manter onde sempre esteve, da mesma forma, com a mesma descabelada arrogância e a mesma atávica falta de cultura e de princípios. Mesmo assim perdendo, de longe, para o radicalismo erecto do conselheiro Albino dos Reis. A direita dele não aceitava qualificativos e afirmava-se como nacionalista, em defesa da fé e do império. A de hoje traz os bolsos cheios de pedras recolhidas na queda do muro de Berlim e chama a si a suprema função de deixar entrar no paraíso os que ela própria rotula de bons. A direita de hoje não tem por ideal nada mais do que comprar submarinos e arrecadar a comissão. Desde que, obviamente, a não declare ao fisco para efeitos de IRS.
A esquerda foi sendo arrastada dos lugares que tradicionalmente ocupava pela acção de motoniveladoras que lhe cilindraram as ideias e arrasaram os ícones. Conserva consigo aquilo que ainda resta de cultura, conhece os clássicos, ainda se ocupa com a filosofia. Ainda escreve livros, como o senhor Manuel Alegre. Mas foi-se convertendo à construção civil, optando pelo casamento religioso e aderindo, progressivamente, às peregrinações a Fátima e à vespertina reza colectiva do terço. Quando chega ao poder não se reclama de coisa nenhuma e procura o consenso no seu próprio regaço, para o não perder logo de seguida. Inaugura com pompa e circunstância as obras que a direita lançou - sem concurso! - e lança ela própria - também sem concurso! - as obras que a direita há-se orgulhosamente inaugurar quando chegar a sua vez.
No meio de ambas o cidadão aguarda, feito mexilhão, gastando o subsídio de desemprego nos bilhetes de acesso ao futebol para ter motivo que lhe ocupe o resto da semana. Desacredita os sindicatos, que não promovem a bola e não asseguram nem o emprego nem o aumento dos salários. De resto, cada bacorada lhe serve de palavra de ordem, venha de onde vier, já que não serve para nada.
Creio, por mim, que a direita faz por estar e por se manter onde sempre esteve, da mesma forma, com a mesma descabelada arrogância e a mesma atávica falta de cultura e de princípios. Mesmo assim perdendo, de longe, para o radicalismo erecto do conselheiro Albino dos Reis. A direita dele não aceitava qualificativos e afirmava-se como nacionalista, em defesa da fé e do império. A de hoje traz os bolsos cheios de pedras recolhidas na queda do muro de Berlim e chama a si a suprema função de deixar entrar no paraíso os que ela própria rotula de bons. A direita de hoje não tem por ideal nada mais do que comprar submarinos e arrecadar a comissão. Desde que, obviamente, a não declare ao fisco para efeitos de IRS.
A esquerda foi sendo arrastada dos lugares que tradicionalmente ocupava pela acção de motoniveladoras que lhe cilindraram as ideias e arrasaram os ícones. Conserva consigo aquilo que ainda resta de cultura, conhece os clássicos, ainda se ocupa com a filosofia. Ainda escreve livros, como o senhor Manuel Alegre. Mas foi-se convertendo à construção civil, optando pelo casamento religioso e aderindo, progressivamente, às peregrinações a Fátima e à vespertina reza colectiva do terço. Quando chega ao poder não se reclama de coisa nenhuma e procura o consenso no seu próprio regaço, para o não perder logo de seguida. Inaugura com pompa e circunstância as obras que a direita lançou - sem concurso! - e lança ela própria - também sem concurso! - as obras que a direita há-se orgulhosamente inaugurar quando chegar a sua vez.
No meio de ambas o cidadão aguarda, feito mexilhão, gastando o subsídio de desemprego nos bilhetes de acesso ao futebol para ter motivo que lhe ocupe o resto da semana. Desacredita os sindicatos, que não promovem a bola e não asseguram nem o emprego nem o aumento dos salários. De resto, cada bacorada lhe serve de palavra de ordem, venha de onde vier, já que não serve para nada.
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