Segredo bancário
O presidente do Peru, Alejandro Toledo, autorizou ontem o levantamento do segredo bancário, de forma que as autoridades judiciais possam investigar denúncias de enriquecimento sem causa nas últimas semanas contra si e sua mulher, Eliane Karp. O mandatário disse que a autorização é extensiva tanto ao seu património "pessoal" como "conjugal". Esta é uma medida firme e radical, tendo em conta o meu papel como Chefe de Estado, disse Toledo, que discursava por ocasião da festa de independêndia do país. A popularidade do presidente está em baixa, entre sete e nove por cento.
Li a notícia com a naturalidade europeísta de quem sabe que, em Portugal, posição idêntica pode ser facilmente assumida por qualquer pessoa, do presidente da república ao comandante dos bombeiros de um qualquer concelho que arde todos os anos, por esta altura. O segredo bancário em Portugal não é notícia, até porque não afecta as contas sediadas em seguros e discretos "offshores", para onde nem sequer há voos regulares ou correio directo. Tão pouco o enriquecimento aparentemente sem causa. Em Portugal apenas se enriquece de uma maneira: com os ganhos da especulação bolsista. As cotações da bolsa sobem, ganha-se. Descem? Ganha-se na mesma. Não se mexem, nem para cima nem para baixo? Ainda assim se ganha. Com a certeza de que os ganhos conduzem ao enriquecimento inevitável, quase sempre acidental, quantas vezes até indesejado. Nada se pode fazer para contrariar os insondáveis caprichos do destino. E o destino, como se sabe, marca a hora. A lista dos milionários que a bolsa produz cresce de ano para ano. Até mais do que aquela que vai crescendo com a crise da indústria textil do vale do Ave onde os prejuízos continuam a ser investidos em moradias de luxo, em automóveis de topo de gama e em namoradas de países de leste. Por isso os industriais reclamam contra a insuficiência das ajudas do Estado, berram pela alteração imediata das incompreensíveis leis laborais e esperam pelo aumento da produtividade. O ministro promete satisfazer-lhes a vontade e dar seguimento às suas justas reinvindicações.
A questão do segredo bancário só realmente pode ser notícia do peru e, a sua quebra, porventura consequência de perua ainda em fase de ressaca. Ou no Peru, país distante, quase com nome de galinha, latino-americano, que apenas se sabe ficar em casa do diabo mais velho, terceiro-mundista e, portanto, perfeitamente desprezível.
[Público, Mundo, 29.07.2004]
Li a notícia com a naturalidade europeísta de quem sabe que, em Portugal, posição idêntica pode ser facilmente assumida por qualquer pessoa, do presidente da república ao comandante dos bombeiros de um qualquer concelho que arde todos os anos, por esta altura. O segredo bancário em Portugal não é notícia, até porque não afecta as contas sediadas em seguros e discretos "offshores", para onde nem sequer há voos regulares ou correio directo. Tão pouco o enriquecimento aparentemente sem causa. Em Portugal apenas se enriquece de uma maneira: com os ganhos da especulação bolsista. As cotações da bolsa sobem, ganha-se. Descem? Ganha-se na mesma. Não se mexem, nem para cima nem para baixo? Ainda assim se ganha. Com a certeza de que os ganhos conduzem ao enriquecimento inevitável, quase sempre acidental, quantas vezes até indesejado. Nada se pode fazer para contrariar os insondáveis caprichos do destino. E o destino, como se sabe, marca a hora. A lista dos milionários que a bolsa produz cresce de ano para ano. Até mais do que aquela que vai crescendo com a crise da indústria textil do vale do Ave onde os prejuízos continuam a ser investidos em moradias de luxo, em automóveis de topo de gama e em namoradas de países de leste. Por isso os industriais reclamam contra a insuficiência das ajudas do Estado, berram pela alteração imediata das incompreensíveis leis laborais e esperam pelo aumento da produtividade. O ministro promete satisfazer-lhes a vontade e dar seguimento às suas justas reinvindicações.
A questão do segredo bancário só realmente pode ser notícia do peru e, a sua quebra, porventura consequência de perua ainda em fase de ressaca. Ou no Peru, país distante, quase com nome de galinha, latino-americano, que apenas se sabe ficar em casa do diabo mais velho, terceiro-mundista e, portanto, perfeitamente desprezível.
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