21 de novembro de 2003

A discussão do orçamento de estado

Ouço, sem lhes prestar atenção, que felizmente não tenho pachorra para isso, as intervenções dos deputados na apregoada discussão do orçamento de estado para 2004. Que, como se sabe, é um monólogo em vários actos, mediocremente representado por actores amadores sem vocação. Mas cujos “cachets” são desgraçadamente pesados para o bolso de quem desconta. Que não têm porte decente, tropeçam nos adereços e estatelam-se nos espectadores que se sentam nas cadeiras da frente, amarrotando-lhes os fatos e sujando-lhes a graxa dos sapatos.

A Dra. Manuela Leite, diz-se perplexa quando pronuncia o seu discurso desinteressante, monocórdico, afirmando que os outros fizeram tudo mal, não estava ela para os ensinar, agora podemos todos confiar, vai-nos melhorar o nível de vida, não garante é quando. Um lado da bancada aplaude, grita eufórica, atira as esferográficas ao ar e salta nos lugares por causa da cantiga do “quem não salta...” que se ouve por aí. A outra parte da bancada ri desvairadamente, bate com os pés no soalho, parecem equinos a dar com as ferraduras no chão da estrebaria, impacientes por causa das moscas que lhes vão esvoaçando em torno das orelhas. Que abanam para as enxutar para a longe.

A Dra. Manuela Leite continua, atribuindo as culpas de tudo à mãe do Dr Salazar, sacana da pacóvia, porque haveria o filho de ter ido para Coimbra estudar e chegar a dono do país. Poderia ter feito a exame do segundo grau, com distinção e tudo, poderia ter dado um bom marçano numa merceria do Porto, onde o patrão lhe daria comida, dormida, roupa lavada, trabalho e porrada se fosse preciso. Até poderia ter casado, feito filhos, – ao menos um como aquele Morgado do CDS que a Natália Correia disse ter sido capado depois do acto – até mais tarde estabelecer-se por conta própria.

Quanto a ideias, estamos conversados: nem a mais vazia, nem a mais inútil, nem a mais absurda. Nada! Nem de um lado nem do outro. Apenas sabem atacar-se uns aos outros e retribuir-se. Quando o deputado A, por outras palavras já se vê, diz que o orçamento é uma merda, responde-lhe o deputado B não para refutar a afirmação mas para lhe dizer que não apontou alternativas. O deputado C, sobre o orçamento, diz que ninguém sabe se o “leader” da oposição daqui a três anos será o mesmo e se terá a oportunidade de se apresentar a eleições nessa condição. O que é, como se compreende, definitivamente importante para a redução dos impostos, para o aumento das pensões e para a redução da inflacção.

Quando o orçamento é aprovado uma parte da bancada cala-se e baixa as orelhas: é a oposição. A outra aplaude freneticamente, como se se risse às gargalhadas das graçolas que acabou de contar: é a maioria. Continuamos fritos!

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