19 de novembro de 2003

Albert Camus, 19.11.1957

19 de Novembro de 1957

Caro Monsieur Germain:

Deixei extinguir-se um pouco o ruído que me rodeou todos estes dias antes de lhe vir falar com todo o coração. Acabam de me conceder uma honra excessiva, que não procurei nem solicitei. Mas quando me inteirei da notícia, o meu primeiro pensamento, depois de minha mãe, foi para o senhor. Sem si, sem a mão afectuosa que estendeu ao garoto pobre que eu era, sem os seus ensinamentos e exemplo, nada de tudo isso teria acontecido. Não imagino um mundo com essa espécie de honra. No entanto, constitui uma oportunidade para lhe dizer o que foi, e ainda é para mim, e assegurar-lhe que os seus esforços, o seu trabalho e o coração generoso que sempre empregava ainda se encontram vivos num dos seus pequenos alunos que, apesar da idade, não deixou de ser o seu grato estudante. Abraço-o com todas as minhas forças.

Albert Camus


Camus nasceu em 1913 e morreu em 1960 num acidente de automóvel, com apenas 47 anos de idade. Em 1957, tinha 44 anos, foi distinguido com o Prémio Nobel da Literatura. A carta que se transcreve acima escreveu-a ele, ao seu antigo mestre-escola, faz hoje exactamente 46 anos, depois de ter sido informado de que tinha sido galardoado com o Prémio Nobel.

Curta e singela esta carta é uma lição e um exemplo. Não precisava, de facto, de ser mais longa para dizer tanto como diz. E para revelar a humildade grandiosa de um quase jovem a quem, como diz, haviam concedido honras excessivas.

Que longe vão, hoje, dias e carácteres desta envergadura. Quando a mediocridade anda a par com a vaidade, a arrogância, a inutilidade e o vazio integral de um Big Brother gigantesco.

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