21 de dezembro de 2003

Em gente honesta até dá gosto ir votar

Cada vez me sinto mais rídiculo na minha condição de português. A única coisa que me vai mantendo a auto-estima - como agora é fino dizer-se! - à superfície é o facto do Dr Barroso me ter prometido que íamos ser o primeiro país da Europa, mesmo que não saiba se ele já se terá esquecido ou não. E, verdade seja dita, também não sei com que intenção o dizia, mesmo falando sério, sem o mínimo sorriso a aflorar-lhe aos lábios. Isto porque mesmo os mais sérios, como ele, gozam connosco que se fartam sem a gente dar por ela. E, sendo assim, poderia querer referir-se ao atraso nos horários, na saúde, na indústria, na economia, no comércio. Ou à liderança no número de casos de tuberculose, de sida, de consumo de álcool. O que desde logo nos faria destacar do pelotão e caminhar isolados para a meta e para a vitória.

Ainda ontem, num outro "post", falava das condições de trabalho, satisfatórias, que o país assegura, muito justamente, aos que o servem dedicada e desinteressadamente. Os autarcas são dos que mais se esforçam por conquistar as boas graças dos seus munícipes. No norte fez história a benemerência do major Valentim que chegou, no decurso das campanhas eleitorais, a distribuir galinhas poedeiras ou para canja e televisões a cores, com ecran de 51 centímetros, para que os eleitores pudessem ver o Boavista no conforto dos seus sofás. Alguns deles tiveram depois o gesto grato de o convidar para a patuscada, oferecendo eles o vinho e a broa.

Recentemente os jornais noticiavam que alguns autarcas do área metropolitana do Porto vinham, ilegalmente, a receber os ordenados por inteiro dos cargos de presidentes de câmara e de administradores daquilo a que, por megalomania, teimam em chamar Metro do Porto. O Sr major não, que não precisava, tinha dito para fazerem as coisas direitas porque os seus biscates lhe dão sempre para os pequenos almoços. O Dr Rio, questionado sobre o assunto, foi claro e objectivo dizendo que cumpria rigorosamente a lei. E quando o inoportuno jornalista se não conformou em saber que o Dr Rio não estacionava o automóvel em transgressão, não agredia os funcionários, não insultava as empregadas da limpeza, não matava e não assaltava bancos, insistiu com a questão. E o ordenado, tem recebido por inteiro? É de boas maneiras o Dr Rio, como se sabe, como se tem visto e tomado conhecimento pelas intervenções do Sr. Pinto da Costa. Por isso se conteve, passou a mão pelo cabelo e voltou a declarar, com mais forte convicção ainda, que cumpria muito rigorosamente a lei.

Vai daí que dias atrás a Junta Metropolitana do Porto se reuniu para designar os presidentes de câmara que terão assento no Conselho de Administração do Metro do Porto. A reunião decorreu normalmente, não tendo sido pacífica nem lhe tendo faltado polémica que chegasse. E, no meio dessa normalidade a que vamos estando habituados, aprovou a recondução dos mesmos administradores: o major Valentim, o Dr Rio, o Sr Narciso e o engenheiro de Vila do Conde. O Dr Menezes, de Gaia, já em tempos tinha dito que precisava de ganhar tanto como os outros porque ainda tem filhos a estudar e hospeda em casa uns sobrinhos lá de cima, que também comem. Agora exigem tratamento idêntico o Dr Bragança, da Maia e o Sr Macedo, da Póvoa. Porquê? Ora, porque está previsto que o metro venha a passar ou a chegar aos seus concelhos, que é quanto basta para lhes dar uma trabalheira do caraças.

A questão é perfeitamente pacífica em relação a um aspecto. A determinação unânime em servirem mais e melhor as populações dos seus municípios, que poderão viajar de metro não se sabe ainda quando, a preços do arco da velha. Quanto a saneamento básico, habitação social, saúde, educação e outras ninharias, a culpa da situação até lhes não pertence. Em alguns casos vem do mandato anterior, dos que agora são oposição. Quando isso não acontece, ainda é herança do facismo!

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