Finalmente políticos e gestores são tratados como gente. E rima!
Uma das características que sempre me agradou mais no professor Cavaco - para além da agilidade em subir aos coqueiros sem levar com os cocos na tola! - foi a sua permanente boa disposição, o seu ar jovial e sorridente, a sua ironia e o seu inatingível sentido de humor. Humor fino, de salão, política e socialmente correcto, culto. Nada de ordinário como o pouco que o Sr Herman José tenta fazer nos seus programas em que a melhor anedota é o "cachet" que lhe pagam, sendo certo que quem se diverte é ele.
Recordo-me de quase me ter escangalhado a rir, como o professor Marcelo no domingo passado, quando ouvi o professor Cavaco, anos atrás, dizer que como primeiro ministro de Portugal ganhava o equivalente a um dos motoristas do chanceler Helmut Kohl. Perguntei-me na altura porque raio não teria ele emigrado em vez de ter ido fazer a rodagem do carro novo para a Figueira da Foz. E mantive-me na dúvida, sem resposta, até hoje.
Hoje fico a saber que afinal o professor Cavaco era um homem de ideias largas, que olhava para o futuro, não se ficava pelo imediato. Tinha esperança que as coisas pudessem melhorar com o tempo e com a União Europeia. Por isso se ficou por cá, sem emigrar, e tinha razão. Deve estar roído de inveja e frustrado porque a ideia foi dele. Reste-lhe a antiga satisfação de saber que nunca tem dúvidas e que raramente se engana. Mesmo que essa seja hoje apenas para contar aos netos.
Nos dias que correm, apesar da crise de que persistentemente fala a Dra. Manuela e da retoma em que insiste o Dr. Barroso, o que está a dar é ser político ou gestor que, afinal, são uma e a mesma coisa. Os gestores saltam para o governo e os governantes para a gestão das empresas tipo pescadinha de rabo - sem ofensa! - na boca com a mesma facilidade com que o Dr Santana diz que nunca pensou em ser candidato a presidente da república. As coisas mudaram e, ao que parece, até o Dr Almeida Santos deixou de ser cliente certo e habitual das casas de prego da baixa coimbrã, por insuficiência do ordenado para as despesas da farmácia.
Um comandante geral da GNR, que amanhã bem pode ser ministro da cultura ou gestor da CP, pode escolher dois a três carros topo de gama, sem limite de preço, marca, modelo ou mesmo cor, três motoristas, gasolina, gratificações sigilosas no fim da comissão de serviço, ajudas de custo, despesas de representação, contas de telefone fixo e móvel, secretária particular, - não se indica para que serviço! - um chefe de gabinete e pelo menos dois assessores. Pena mesmo é que o ordenado seja sofrível: apenas na ordem dos mil contos mensais, que aforram. Se fosse um bocadinho maior sempre podiam aforrar mais, às taxas de juro que a banca paga não se consegue ganhar nenhum.
Os deputados e os membros do governo não têm também nenhuma razão de queixa e, exactamente por isso, anda o Dr. Almeida Santos mais sossegado. Os deputados gozam de um estatuto especial que eles próprios redigiram e aprovaram, em que se atribuiram uma série de benesses, são intocáveis - como aquele deputado de Águeda que entrou no parlamento mudo para sair calado e nem à justiça se apresenta, a prestar declarações - têm um ordenado na casa dos setecentos contos mensais, despesas de representação e ajudas de custo. Têm é sempre muito trabalho político a desenvolver, em Sevilha, no México e até mesmo no Japão e na Nova Zelândia, o que os força a muitas e cansativas viagens. Em classe executiva, é claro! O trabalho é tão desgastante que nem os futebolistas imaginam o que é trabalhar e ter uma carreira curta. Por isso, muito justamente, têm ao fim de dez anos de exercício de funções o direito à reforma vitalícia e por inteiro.
Percebe-se, por isto, porque é que a elaboração de todas as listas de candidatos é sempre tarefa tão difícil e complicada, com todos os muitos patriotas disponíveis a porem-se em bicos de pés. Percebe-se mesmo que, embora desgastados pelos sucessivos e longos mandatos, os que lá estão se mantenham disponíveis no seu patriotismo e dispostos a continuar, a bem do progresso nacional. Percebe-se mesmo porque é que tão pouca gente é detida e porque é que quase a mesma gente acaba por ser solta. E, pensando bem, percebe-se também porque razão os tribunais mandam os ladrões em liberdade e passam vigorosas reprimendas aos equivocados agentes da autoridade que os prenderam. Às vezes os pequenos também têm direito à vida, não é?
Recordo-me de quase me ter escangalhado a rir, como o professor Marcelo no domingo passado, quando ouvi o professor Cavaco, anos atrás, dizer que como primeiro ministro de Portugal ganhava o equivalente a um dos motoristas do chanceler Helmut Kohl. Perguntei-me na altura porque raio não teria ele emigrado em vez de ter ido fazer a rodagem do carro novo para a Figueira da Foz. E mantive-me na dúvida, sem resposta, até hoje.
Hoje fico a saber que afinal o professor Cavaco era um homem de ideias largas, que olhava para o futuro, não se ficava pelo imediato. Tinha esperança que as coisas pudessem melhorar com o tempo e com a União Europeia. Por isso se ficou por cá, sem emigrar, e tinha razão. Deve estar roído de inveja e frustrado porque a ideia foi dele. Reste-lhe a antiga satisfação de saber que nunca tem dúvidas e que raramente se engana. Mesmo que essa seja hoje apenas para contar aos netos.
Nos dias que correm, apesar da crise de que persistentemente fala a Dra. Manuela e da retoma em que insiste o Dr. Barroso, o que está a dar é ser político ou gestor que, afinal, são uma e a mesma coisa. Os gestores saltam para o governo e os governantes para a gestão das empresas tipo pescadinha de rabo - sem ofensa! - na boca com a mesma facilidade com que o Dr Santana diz que nunca pensou em ser candidato a presidente da república. As coisas mudaram e, ao que parece, até o Dr Almeida Santos deixou de ser cliente certo e habitual das casas de prego da baixa coimbrã, por insuficiência do ordenado para as despesas da farmácia.
Um comandante geral da GNR, que amanhã bem pode ser ministro da cultura ou gestor da CP, pode escolher dois a três carros topo de gama, sem limite de preço, marca, modelo ou mesmo cor, três motoristas, gasolina, gratificações sigilosas no fim da comissão de serviço, ajudas de custo, despesas de representação, contas de telefone fixo e móvel, secretária particular, - não se indica para que serviço! - um chefe de gabinete e pelo menos dois assessores. Pena mesmo é que o ordenado seja sofrível: apenas na ordem dos mil contos mensais, que aforram. Se fosse um bocadinho maior sempre podiam aforrar mais, às taxas de juro que a banca paga não se consegue ganhar nenhum.
Os deputados e os membros do governo não têm também nenhuma razão de queixa e, exactamente por isso, anda o Dr. Almeida Santos mais sossegado. Os deputados gozam de um estatuto especial que eles próprios redigiram e aprovaram, em que se atribuiram uma série de benesses, são intocáveis - como aquele deputado de Águeda que entrou no parlamento mudo para sair calado e nem à justiça se apresenta, a prestar declarações - têm um ordenado na casa dos setecentos contos mensais, despesas de representação e ajudas de custo. Têm é sempre muito trabalho político a desenvolver, em Sevilha, no México e até mesmo no Japão e na Nova Zelândia, o que os força a muitas e cansativas viagens. Em classe executiva, é claro! O trabalho é tão desgastante que nem os futebolistas imaginam o que é trabalhar e ter uma carreira curta. Por isso, muito justamente, têm ao fim de dez anos de exercício de funções o direito à reforma vitalícia e por inteiro.
Percebe-se, por isto, porque é que a elaboração de todas as listas de candidatos é sempre tarefa tão difícil e complicada, com todos os muitos patriotas disponíveis a porem-se em bicos de pés. Percebe-se mesmo que, embora desgastados pelos sucessivos e longos mandatos, os que lá estão se mantenham disponíveis no seu patriotismo e dispostos a continuar, a bem do progresso nacional. Percebe-se mesmo porque é que tão pouca gente é detida e porque é que quase a mesma gente acaba por ser solta. E, pensando bem, percebe-se também porque razão os tribunais mandam os ladrões em liberdade e passam vigorosas reprimendas aos equivocados agentes da autoridade que os prenderam. Às vezes os pequenos também têm direito à vida, não é?
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