16 de dezembro de 2003

A má relação dos portugueses com os números

De um modo geral os portugueses têm uma muito má relação com os números. Desde sempre, em todos os sentidos e a todos os níveis. Muitas vezes assemelha-se muito à relação que os treinadores de futebol mantêm com os resultados e com os árbitros. Ou que os políticos alimentam com os resultados eleitorais e com as sondagens e os indicadores de desempenho anunciados pelos membros do governo.

Na tentativa de ultrapassar a dificuldade socorremo-nos do embuste e da habilidade. Não ensinamos a tabuada às nossas crianças: compramos-lhes máquinas de calcular em lojas de chineses que às vezes, mesmo com pilhas, não funcionam ou nos exibem com arrogância caracteres orientais. Depois admiramo-nos que não saibam calcular a idade que têm ou somar dois mais dois. Basta perguntar a um aluno mediano do ensino básico - é assim que se chama agora? - quantas patas tem um casal de patos. É mais que provável que, sem hesitação, responda que tem cinco. Quer dizer, uma das aves desloca-se utilizando um sistema de tripé!

Na política recordo-me de ter ouvido um candidato, na campanha para as últimas legislativas, gritar para as centenas de pessoas que ali estavam por obrigação: queremos fazer de Portugal o melhor país da Europa. Todos bateram palmas, também por obrigação. O resultado está conseguido, logo no final da primeira parte. É para o atestar que a Grécia ainda se mantém na Europa e se não mudou para a América latina.

Esta manhã ouvi eu o Dr Barroso gritar para quem, por obrigação, ontem jantou com ele, não sei nem onde, nem a que propósito. Que o défice tem vindo a ser reduzido de forma drástica desde há dois anos, alinhando números em sequência decrescente como se fossem uma progressão geométrica. Acrescentando, ainda e sempre aos gritos, que se isso não é contenção orçamental então ele não sabe o que é contenção orçamental.

Acertou, não sabe. Parece o Dr Soares pai que, quando tinha insónias, pegava num processo que envolvesse números, para o estudar. Passados cinco minutos estava a dormir profundamente, bastas vezes ressonando ruidosamente, estivesse onde estivesse. Como se lhe tivessem dado uma dose dupla de Ludionil 75 para adormecer. Fatalmente dizia asneiras em relação a todos os assuntos, mas muito maiores quando se referia a números e ninguém lhe ligava. Tem hoje no Dr Portas um indefectível discípulo e seguidor, que se lhe refere por despeito e desencanto e, sem vergonha, lhe persegue a mulher que quase poderia ser sua avó. Só por inveja.

Para não variar, sou como os outros, tenho bilhete de identidade e passaporte, não sei nada de números. Nem sequer me atrevo a revelar as notas que fui tendo quando, por pouco tempo, andei na escola. Mas, sem gritos e sem assistência, alinho números relativos à descida negativa do número de desempregados nos últimos dois anos. Invoco os aumentos sucessivos e graduais do poder de compra, que manifestam a mesma tendência, Enumero as mais e maiores vantagens que o Estado, ladrão, nos vem atribuindo pela mão dos nossos patrióticos ministros. Sempre sob o olhar atento da Dra Celeste Cardona, para que haja justiça.

Realmente! De númaros só sabe mesmo o presidente do Benfica. E mesmo assim vê que o negócio do Mantorras lhe tem corrido mal, embora a construção do estádio compense tudo. Mas ainda não sabe quando ganha o campeonato. Para se redimir!


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