16 de dezembro de 2003

Já não quero ser milionário!

Às vezes, sem convicção e sem esperança, acabo por me sentar um pouco frente à televisão, mesmo que seja muito difícil confrontar-me com algum programa que me prenda por muito tempo. Hoje estive um bocado a ver o programa "quem quer ser milionário?". E, se isso ainda fosse possível, fiquei banzado de todo.

Há um jovem - e eu não tenho nada contra ninguém, muito menos contra os jovens! - que se apresenta como licenciado em qualquer coisa. Quanto à sua ocupação adianta ser "account" numa empresa de "merchandising" não tendo sido depois capaz de descrever minimamente as funções de tal profissão. Antes de mais o uso, desnecessário, de palavras inglesas e a sua incorrecta aplicação. Desculpa-se, naturalmente. Não somos ingleses, nem sequer espanhois. E muito raramente somos capazes de falar ou escrever correctamente a nossa língua materna.

Depois as perguntas. A primeira colocava quatro alternativas em relação ao que seria o arroz: uma semente, uma vagem, um cereal ou um legume. O nosso engenheiro inclinou-se claramente para a possibilidade do arroz ser uma vagem. Depois, a custo, socorreu-se de auxílio externo para responder correctamente. E uma ou duas perguntas adiante a cena repetiu-se, agora em relação aos barcos típicos do rio Douro. Confrontado com quatro possibilidades o jovem pediu que novo auxílio exterior lhe eliminasse duas delas e ficou depois a debater-se com as dúvidas entre o barco rabelo e as canoas do Douro. Inclinou-se de novo, até quase ser atirado borda fora, para as canoas do Douro. Mesmo que o apresentador lhe tivesse repetidamente referido um fado de Carlos do Carmo. Foi precisa nova ajuda externa, desta vez da mãe do concorrente, para lhe dizer que a resposta correcta era barco rabelo.

É doloroso assitir a isto porque as questões são perfeitamente elementares e fazem parte da nossa afirmação cultural, mesmo que o Dr Pedro Roseta pense que essa afirmação se esgota nos subsídios ao cinema nacional - que nunca existiu! - ou na linha de Cascais. E isto não é uma questão de ministro, o Dr Carrilho, mesmo muito crítico, defende que cultura é comprar no Rosa e Teixeira e frequentar passagens de modelos e não mais do que isso. Como dizia um dia destes o professor Freitas do Amaral há de facto um vazio impressionante no que respeita à chamada cultura geral. Que, em minha opinião, se não transmite pela inclusão de mais uma disciplina no ensino secundário, por exemplo. A questão é mais profunda, vem, ou deve vir de mais longe, como a fama daquele brandy.

Tantas reformas do ensino para rigorosamente nada. Quando se trata apenas da cultura, estúpido!

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