18 de dezembro de 2003

Nos mares fomos nós sempre os primeiros

E vamos continuar a ser, custe o que custar. Depois, é claro, do Francis Drake a que esses bastardos ingleses continuam a tratar por "Sir", como se ele fosse o Elton John. Foi assim que iniciámos a longa e gloriosa cruzada, ao encontro do desconhecido, para tantas descobertas, tantas glórias, tantos carregamentos de pimenta e de cravinho para governo de el-rei, nosso senhor! Partindo da "ocidental praia lusitana" para a incomensurável epopeia que o nosso Camões acabou cantando em versos alexandrinos.

Começámos por chegar à Madeira, conjunto de ilhéus escarpados e agrestes, vazios de tudo como hoje são as desertas. Não havia nada, nem vinho porque os ingleses chegaram para o fazer já depois de nós, nem bananas porque ainda se não conheciam as bananeiras, nem sequer Alberto João nenhum, porque nenhumas escavações arqueológicas tinham sido feitas. E colonizámos o arquipélago que, naturalmente, explorámos. Naus e naus carregadas de nada aportaram a Lisboa, para deslumbramento da nobreza e trabalhos de descarga da plebe faminta, rota e descalça. Exactamente como hoje, de onde, com fartura desmedida, nos continuam a chegar pedidos de dinheiro e de voos mais baratos para os indígenas virem ao continente ver a bola. Que a Dra Manuela, digna herdeira do Conde de Oeiras, se apresta a satisfazer para glória da república e satisfação do gentio.

Passámos pelos Açores onde não havia vivalma que soubesse o que era o mau tempo no canal, que pudesse experimentar-lhe a insana violência ou descrevê-lo como Nemésio. E seguimos expedição a expedição, costa de África abaixo, plantando padrões pelas praias, dobrando o Cabo da Boa Esperança e chegando à Índia e ao Japão. Onde, de espanto, os naturais presentearam os nossos antanhos e ficaram de olhos em bico, até hoje. Deixámos marcas que o tempo não apagou, até mesmo pelo Brasil, onde Cabral acabou por aportar à força dos ventos que não eram de feição.

Agora, dois dias atrás, quando um navio de casco único, é localizado transportando carga perigosa a curta distância da nossa área exclusiva, fazemos justiça ao nosso passado e à nossa história. O Dr Portas assume-se como ministro da marinha e esquece-se, para esta campanha, da guerra do Iraque onde não são as suas forças que pelejam. Enverga, lesto e orgulhoso, o seu traje de marinheiro. Toca a reunir e agrupa, à falta de submarinos que ainda não comprou, toda a frota pesqueira que um sacana de um comissário europeu qualquer já tinha lançado em doca seca. Assume o comando da invencível armada, de peito exposto ao vento e às marés, sente que os olhos se lhe marejam de lágrimas patrióticas e segue a vigiar o perigo que ameaça poluir a zona. E, como Diogo Cão nos deixou mapas que lhe ensinam o caminho, segue a escoltá-lo até à Cidade do Cabo!



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