Está um lindo dia para atirar o Miguel de Vasconcelos da janela
Foi assim, quase de repente. A chuva parou e um azul instantâneo, sem mácula, espalhou-se por cima das últimas folhas secas que ainda se prendem ao cruto dos plátanos. Muito amarelas, quase castanhas, resistem ao vento, à chuva, ao outono e às obras daquilo a que chamam metro e que, lentamente, vai minando a cidade por dentro. Abrupto um sol fresco caiu das entranhas desse azul, alto e inacessível, para se espelhar no piso molhado dos passeios e das ruas. Enquanto alguma água se mantinha empoçada nas sarjetas à espera que o fenómeno da evaporação a levasse de regresso.
É feriado nacional e pergunto porquê já que o jornal, na primeira página, o ignora. Dizem-me que é por ser um de Dezembro e, sem querer, fico desde logo a saber também qual a razão porque amanhã não é feriado. Mas de longe vem-me ligeira e ténue a memória de que isto tem a ver com o ano de 1640 e com o D. João IV de Bragança a quem proclamaram rei para que corresse com os espanhois. Devo provavelmente tê-lo ouvido ao professor Saraiva, num dos seus programas de televisão, e retive a história do Miguel de Vasconcelos escondido no armário, as portas fechadas e a respiração suspensa, na esperança de passar despercebido. Mas não passou. E olhando para as ruas sem carros ? dia decretado pelo Dr Rio, sem propaganda, penso eu! ? penso que está um lindo dia para atirar o Miguel de Vasconcelos pela janela.
Com sol e o céu limpo devemos todos correr a encher o largo do município, gritando palavras de ordem contra tantos Migueis de Vasconcelos que vamos ter que atirar à rua no dia de hoje. Mas impõe-nos o respeito por quem é da casa que aguardemos pelo Dr Santana que hoje, dia feriado, se levantará mais tarde. Certamente tomará o seu banho de imersão, com sais perfumados e hidratantes, ajeitará a barba e desfrizará um pouco o que lhe resta da sua carapinha europeia. Porá gravata e vestirá fato que a sua condição lhe não permite ir para a rua de gibão como se fosse um cigano das colónias do Sr Narciso Miranda.
Quando chegar ele mesmo tomará a iniciativa cedendo emocionalmente à multidão que se comprime e acotovela no largo todo, por debaixo da varanda. Gritará que a culpa é toda de quem esteve antes dele, que não pensou no túnel do marquês nem na reconversão do parque mayer. E regressará ao interior do edifício, abrindo todos os armários de todas as muitas salas, à procura do Dr Soares filho. Debalde, porque o não encontrará. Nem ele, pelo volume, caberia nos armários nem estes, pela carcomida idade, lhe suportariam o peso. Quando já for noite, se calhar, vão encontrá-lo bastante mais longe, escondendo-se a um canto de um pavilhão multiusos do Colégio Moderno. A essa hora já ninguém lhe fará mal!
É feriado nacional e pergunto porquê já que o jornal, na primeira página, o ignora. Dizem-me que é por ser um de Dezembro e, sem querer, fico desde logo a saber também qual a razão porque amanhã não é feriado. Mas de longe vem-me ligeira e ténue a memória de que isto tem a ver com o ano de 1640 e com o D. João IV de Bragança a quem proclamaram rei para que corresse com os espanhois. Devo provavelmente tê-lo ouvido ao professor Saraiva, num dos seus programas de televisão, e retive a história do Miguel de Vasconcelos escondido no armário, as portas fechadas e a respiração suspensa, na esperança de passar despercebido. Mas não passou. E olhando para as ruas sem carros ? dia decretado pelo Dr Rio, sem propaganda, penso eu! ? penso que está um lindo dia para atirar o Miguel de Vasconcelos pela janela.
Com sol e o céu limpo devemos todos correr a encher o largo do município, gritando palavras de ordem contra tantos Migueis de Vasconcelos que vamos ter que atirar à rua no dia de hoje. Mas impõe-nos o respeito por quem é da casa que aguardemos pelo Dr Santana que hoje, dia feriado, se levantará mais tarde. Certamente tomará o seu banho de imersão, com sais perfumados e hidratantes, ajeitará a barba e desfrizará um pouco o que lhe resta da sua carapinha europeia. Porá gravata e vestirá fato que a sua condição lhe não permite ir para a rua de gibão como se fosse um cigano das colónias do Sr Narciso Miranda.
Quando chegar ele mesmo tomará a iniciativa cedendo emocionalmente à multidão que se comprime e acotovela no largo todo, por debaixo da varanda. Gritará que a culpa é toda de quem esteve antes dele, que não pensou no túnel do marquês nem na reconversão do parque mayer. E regressará ao interior do edifício, abrindo todos os armários de todas as muitas salas, à procura do Dr Soares filho. Debalde, porque o não encontrará. Nem ele, pelo volume, caberia nos armários nem estes, pela carcomida idade, lhe suportariam o peso. Quando já for noite, se calhar, vão encontrá-lo bastante mais longe, escondendo-se a um canto de um pavilhão multiusos do Colégio Moderno. A essa hora já ninguém lhe fará mal!
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