1 de dezembro de 2003

O Paulo Portas há-de mandar um ultimato ao Tony Blair e colonizar o mapa cor de rosa

Os jornais diários, que se presume serem noticiosos, às vezes trazem-nos notícias que até já esquecemos. O jornal do Sr. JMF – salvo seja, que creio que foi por causa disso que o Sr Vicente Silva se foi embora! – chama hoje à primeira página a posição assumida pelo Dr Portas sobre a constituição, não a dele que é de lingrinhas, mas a da república. E diz não ter vergonha - o que é facto por demais conhecido de todos, a começar pelo professor Marcelo – nem da história, nem do império e que, por isso, não quer que lhe imponham uma constituição anticolonialista.

Durante meses andámos todos descansados com os discursos do Dr Portas, a quem o caso Amostra tirava o sono e as palavras. E os grandes discursos do Dr Portas são feitos com ele calado, a pensar em automóveis da marca Jaguar, em tarefeiros pagos sem recibo e em despesas contabilizadas sem documentos. Durante esse período até as lotas ficaram descansadas e as estimadas peixeiras do mercado do Bolhão passaram a dizer menos de metade dos palavrões.

Mas o caso Moderna foi encerrado, – quer dizer, foi julgado porque está a anos-luz de se encerrar – a sentença foi lida, houve penas de prisão, uma das quais um bocado pesada para o currículo do rapaz - e o Dr Portas achou que tinha de novo campo aberto para divagar. Vai daí, apresentou-se no congresso da JP – que parece querer significar Juventude Popular – e desatou a falar furiosamente daquilo que não sabe, como político cuja carreira tem sido construída de esferográfica bic cristal no bolso a fazer contas, a desfazer acordos e a enterrar princípios.

E proclamou que tem orgulho na história de Portugal e que, sendo assim, porque lhe hão-de impor que o Estado seja anticolonislista? Eu não sabia, até hoje, que aquela referência era feita especificamente para arrastar pela sarjeta o orgulho do Dr Portas. E imagino como é que ele se deve ter sentido todos estes anos, com o orgulho igual à autoestima do Sr António Oliveira depois de ter perdido com a Coreia no mundial do ano passado. Haverá outros, mas grande parte da responsabilidade há-de pertencer ao professor Jorge Miranda que se não apercebeu da calamidade e não alertou ninguém para que pudesse ser corrigida. E o orgulho ferido do Dr Portas tem impedido o progresso do país mais do que as referências ao socialismo que o Dr Soares pai arquivou no baú de família, algures em Cortes, Leiria.

Enciclopédica é a sua afirmação “os angolanos, os moçambicanos e os timorenses nunca sentiram o racismo que houve noutros impérios”. É injusto o Dr Portas – o que, de resto, também não é novidade nenhuma – porque admite que os brasileiros, os caboverdianos, os guineenses, os sãotomenses e os indianos puderam sentir esse racismo. Mas sabemos que fala a experiência, o seu conhecimento de causa, o propósito dos seus antepassados de dilatarem a fé e o império, com a espada no mão direita e a cruz na esquerda.

Mas o que de facto apoquenta o Dr Portas não é o seu orgulho ferido pela referência ao anticolonialismo. Pelo contrário é a inibição que essa referência lhe acarreta de não poder colonizar o Iraque, como cabo de guerra do Dr Barroso. Mas acalme-se que isto de guerras é como as zangas das comadres: as verdades acabam sempre por vir ao de cima. E quando tal acontecer, aproveite. Mande um ultimato ao Sr Tony Blair sobre os territórios do mapa cor de rosa e avance. Comande uma esquadra que entre pelo Tamisa, instale tendas de campanha em Trafalgar Square, tome de assalto a residência real e explore o marfim da Namíbia e os diamantes de Kimberley. Nessa altura vai ver que sem necessidade de um só suspiro o Sr Aznar, borrado de medo, lhe terá já pedido que aceite Olivença de volta!

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