A fábula da vitela, dos rapazes e dos deputados
No fim da semana passada o primeiro-ministro deslocou-se a Boticas para divulgar as verbas que, generoso, o governo destina ao combate aos incêndios do próximo Verão e ao veraneio das corporações de bombeiros. Aproveitou para confirmar os protocolos celebrados com S. Pedro, de quem se espera que faça chover, e com o Diabo, de quem se espera que seja cuidadoso na circunscrição dos fogos que vier a atear para uso próprio.
Reconhecido, o povo de Boticas quotizou-se, como se faz nos casamentos e nos funerais, e adquiriu uma vitela para oferecer ao Dr Durão Barroso. Deu-lhe banho, aparou-lhe os cascos, escovou-lhe os pêlos e limpou-lhe a espuma do nariz e a ramela dos olhos vivos. Aspergiu-lhe pelo dorso uma fragrância suave e campestre a carqueja e mandatou o presidente da câmara para que fizesse o discurso e se encarregasse da entrega.
Embevecido, o primeiro-ministro mirou a bezerra de pata a pata, enxotou-lhe as moscas das orelhas, passou-lhe rapidamente a mão direita pelos cornichos a despontar. E agradeceu. Para todavia anunciar que não dispunha no quarto dos filhos de mais nenhum sítio no beliche onde a futura vaca pudesse, confortavelmente, repousar. Levá-la para a residência oficial não dava muito jeito e podia até ser comprometedor. As vitelas, como as crianças, prejudicam sempre o trabalho dos adultos e, se deixadas à sua sorte, não sabem o que fazem, estragam as plantas e sujam as mãos com terra. Além disso, e mais perigoso ainda, seria a vitela poder entrar pelo hemiciclo em hora de plenário e interromper os discursos importantes, usando da palavra. E, se o fizesse, o que poderia dizer? Se calhar contestar o governo, a coligação e o ministro da defesa. Além disso, por estratégia, nem sequer interessava nada que a oposição pudesse conhecer a vaca com que anda a coligação, por causa da inveja.
Sendo assim, agradeceu muito, fez à vitela um último e terno olhar cúmplice e pediu que lha mandassem depois, acondicionada numa caixa térmica. Feita em bife e em carne para a sopa!
Reconhecido, o povo de Boticas quotizou-se, como se faz nos casamentos e nos funerais, e adquiriu uma vitela para oferecer ao Dr Durão Barroso. Deu-lhe banho, aparou-lhe os cascos, escovou-lhe os pêlos e limpou-lhe a espuma do nariz e a ramela dos olhos vivos. Aspergiu-lhe pelo dorso uma fragrância suave e campestre a carqueja e mandatou o presidente da câmara para que fizesse o discurso e se encarregasse da entrega.
Embevecido, o primeiro-ministro mirou a bezerra de pata a pata, enxotou-lhe as moscas das orelhas, passou-lhe rapidamente a mão direita pelos cornichos a despontar. E agradeceu. Para todavia anunciar que não dispunha no quarto dos filhos de mais nenhum sítio no beliche onde a futura vaca pudesse, confortavelmente, repousar. Levá-la para a residência oficial não dava muito jeito e podia até ser comprometedor. As vitelas, como as crianças, prejudicam sempre o trabalho dos adultos e, se deixadas à sua sorte, não sabem o que fazem, estragam as plantas e sujam as mãos com terra. Além disso, e mais perigoso ainda, seria a vitela poder entrar pelo hemiciclo em hora de plenário e interromper os discursos importantes, usando da palavra. E, se o fizesse, o que poderia dizer? Se calhar contestar o governo, a coligação e o ministro da defesa. Além disso, por estratégia, nem sequer interessava nada que a oposição pudesse conhecer a vaca com que anda a coligação, por causa da inveja.
Sendo assim, agradeceu muito, fez à vitela um último e terno olhar cúmplice e pediu que lha mandassem depois, acondicionada numa caixa térmica. Feita em bife e em carne para a sopa!
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