16 de outubro de 2004

A chata representação do Estado

Ao que parece quinta-feira passada o gabinete do primeiro ministro emitiu um comunicado para informar que face à sua ida ao parlamento nesse dia e ao ponto em que se encontrava a preparação da proposta do Orçamento do Estado, não estavam criadas as condições para que, nesse mesmo dia, pudesse estar presente no jantar que o presidente da república oferecia em honra de Joaquim Chissano, presidente de Moçambique. Em duas palavras dizia que não ia e, como razões, poderia ter também apontado uma qualquer nevralgia ou uma unha encravada.

Mas nessa noite esteve presente na Moda Lisboa, uma solenidade em que o estado a que isto chegou deveria fazer representar-se. Por se tratar de uma rara manifestação cultural a que já antes tinha aderido a memória do senhor Bocage e a sensata senilidade do senhor José Vilhena. Cautelosamente nenhum convite tinha sido dirigido ao senhor Saramago, evitando qualquer embaraço que o seu evangelho ainda pudesse causar aos descendentes políticos do senhor Sousa Lara.

Depois Chissano é um dirigente africano, negro e careca, a fazer a sua última viagem de circum-navegação, antes de abandonar o cargo por força de uma constituição que, agora, os países de África também usam. Com um discurso de comunista convertido à doutrina do senhor Luís Delgado, com a foice e o martelo na lapela e uma fotografia do Papa a espreitar-lhe do bolso do casaco. Desinteressante! Nada que pudesse comparar-se com as raparigas que percorrem a passerelle, de pernas ao léu, maminhas provocantemente arrebitadas, o olhar fatal de quem mata. As sensaboronas obrigações do estadista às vezes também têm contrapartidas!

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