12 de março de 2005

Histórico

Definitivamente, eram tempos de África. Não posso recordar-me da época do ano, lembrar-me se já tinham chegado as primeiras chuvas e aquele perfume intenso a terra molhada. Se os milhos tinham nascido, iam já crescendo por diante. Mas lembro-me que era um domingo à tarde, depois de almoço acompanhei o meu tio Quim até casa do Pepino. O Pepino era um mulato pequeno, entroncado, carpinteiro. Jogador de futebol, calçando chuteiras com traves para correr em campos pelados, defesa direito de uma formação alvi-negra, Atlético Clube de Nova Lisboa. Duro de rins e de canelada, lhe conheciam pela alcunha: arranca mamoeiro. Tarde de domingo, maravilha da comunicação sem técnicos de marketing e sem contraditório, a Emissora Nacional levava-nos os relatos dos jogos do campeonato nacional da primeira divisão. Naquela tarde, em Évora - cidade que eu não sabia onde ficava, embora soubesse de cor e salteado todas as estações e apeadeiros da Linha do Norte! - o Lusitano recebia o Benfica. Ganhou por quatro a zero e falhou uma grande penalidade. O árbitro não usava cartões e ninguém reclamava daquilo que ele decidia. Poucos anos antes Manuel Gervásio - a saudade também se invoca! - tinha sido a transferência mais cara do futebol português: o Sporting pagara por ele, ao Barreirense, cinquenta contos.

Ontem, no Porto, o Nacional da Madeira humilhou o Futebol Clube do Porto, campeão nacional, campeão europeu, vencedor da taça intercontinental - a que eles chamam campeão do mundo! - também por quatro a zero e alguns outros que ficaram por marcar. Achou normal o Sr. José Peseiro, as coisas não têm o sortilégio de outros tempos, para o ano já ninguém se recorda. Como ninguém recorda um ano em que o Sporting veio às Antas ganhar por quatro a um e depois, em Alvalade, completou a receita com seis a um. Só me recordo, que também nestes, eram ainda tempos de África.

Como eram tempos de África as tardes em que o Benfica vinha ao Porto, que não ganhava coisa nenhuma, e levava chapa três, sem nenhum desconto. E o meu velho amigo Rubi, doente, quedava-se a segunda-feira na cama, a caldos de galinha e a chazinhos para a azia. Há coisas que é sempre bom podermos recordar, além da batalha de S. Mamede!

1 Comentários:

Às 4:15 da tarde , Blogger mfc disse...

Na sexta também foi um tempo de Áfricas... memorável!
0-4 não se vêem todos os dias... e logo àqueles tipos!

 

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