3 de dezembro de 2003

Camões: um soneto

Apenas porque, mesmo lendo hoje muito pouco, - com grande mágoa minha, acrescente-se! - a poesia continua a preencher-me um cantinho muito junto do coração. Depois porque Camões não é para discutir, em minha opinião. Foi, é e continuará por muito tempo a ser o maior de todos os grandes poetas que tivémos e que continuamos a ter. Finalmente porque, desde longa data este soneto é um dos que, pessoalmente, mais me sensibilizaram.

Erros meus, má fortuna, amor ardente
Em minha perdição se conjuraram;
Os erros e a fortuna sobejaram,
Que pera mi[m] bastava o amor somente.

Tudo passei; mas tenho tão presente
A grande dor das cousas que passaram,
Que as magoadas iras me ensinaram
A não querer já nunca ser contente.

Errei todo o discurso de meus anos;
Dei causa [a] que a Fortuna castigasse
As minhas mal fundadas esperanças.

De amor não vi senão breves enganos.
Oh! quem tanto pudesse que fartasse
Este meu duro Gênio de vinganças!


Seguindo um reparo, creio que do Sr Nelson de Matos, com que aliás estou inteiramente de acordo, no sentido de acautelar a forma e, neste caso, a própria grafia do poema, saliento ter este sido transcrito de Luís de Camões, Obra completa em um volume, Editora Nova Aguilar, Rio de Janeiro, 1988.

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