3 de dezembro de 2003

O Dr José Lamego parte para o Iraque

Esta manhã, enquanto andava às voltas por casa, preparando-me para sair, ouvi que o Dr José Lamego, depois de hesitações, atrasos e adiamentos – a que, por vulgaridade, neste país chamamos burocracia – vai finalmente partir hoje para o Iraque. Para desempenhar não sei que funções e ao serviço não sei de que patrão porque, sinceramente, me não dei ao cuidado de o fixar.

Mais! Vi-o na RTP, com o ar distinto de quem não parte para ser nenhum homem-bomba, usando uma gravata de um vermelho berrante e aberrante ao pescoço. O que quase me deixava na dúvida se o seu benfiquismo não seria mesmo maior do que o do Dr Vale e Azevedo que foi, até hoje e que eu saiba, quem mais gostou do Benfica. Tanto que até da sua própria liberdade prescindiu para o servir. E parece não estar arrependido!

Mas quanto ao Dr. José Lamego ouvi-o, convicto, dizer que era socialista com muito orgulho e português por naturalidade, como consta do seu bilhete de identidade e do seu passaporte diplomático. E que, mesmo sendo o governo que temos tão ideologicamente socialista como o Dr. Paulo Portas, a hipótese lhe fora adiantada por um seu camarada. O que, de resto, não tem mesmo relevância nenhuma porque vai em funções do Estado.

Baqueei perante a miragem de ver o Dr. José Lamego partir do Cais das Colunas, como um tardio e modesto Marco Polo português, ao encontro do oriente misterioso e exótico de onde era também o Ali Bábá que fez as delícias da infância da minha geração. Mesmo que nunca tivesse sabido, de fonte segura como os jornalistas, se os quarenta ladrões também eram aborígenes ou se, ao invés, já eram mercenários.

Debalde. O Dr José Lamego vai partir da sala VIP do aeroporto internacional da Portela – o da Ota ainda não está pronto – para embarcar em classe executiva, com direito a manta para cobrir as pernas, mesa para ler as últimas do Big Brother – está fora da onda o Dr. José Lamego. Ainda não sabe que só a D. Teresa Guilherme é que continua a ver o Big Brother, enquanto não casa e o marido lhe não dá outros trabalhos domésticos – e bebidas gratuitas, incluindo Martin’s de 20 anos. Depois, à chegada, terá à sua disposição uma limusina com oito metros de comprimento, à prova de bala, com ar condicionado e chocolates Ferrero Rocher nas prateleiras das portas, conduzido por um motorista fardado à ocidental.

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