12 de janeiro de 2004

A obsessão do Dr Carrilho

A fatalidade que persegue LisboaManuel Maria Carrilho, está visto, vive permanentemente obcecado com a figura de Pedro Santana Lopes. E tanto assim é que se propõe substitui-lo pela vida fora, nos mais diversos cargos. Assim aconteceu na cultura, que conseguiu fosse promovida de secretaria a ministério, fosse dotada de uma casa de banho decente, onde premoninavam as lacas douradas e as louças de escolha extra, especial para ministro. Que diabo, não pode dar-se a casas velhas, manhosas e mal frequentadas o privilégio de, mesmo ocasionalmente e por momentos de aflição, poderem ter uma qualquer sanita vulgar, de louça de Valadares, terceira escolha, com defeitos de fabrico, a gabarem-se de ali se ter sentado o mais alto dignitário da cultura do país. O que até distribui subsídios aos filmes do Sr Manoel de Oliveira e às encenações do teatro Seiva Trupe.

Não foi de todo muito bem sucedido nesta primeira substituição, mesmo que em termos de currículo tivesse melhor nota a filosofia do que o Dr Santana cuja filosofia, como largamente se sabe, é outra. E depois este conseguiu o degredo definitivo do perigoso comunista que era na altura o Sr José Saramago, para uma inóspita e isolada ilha administrada por Espanha. Ao mesmo tempo que impedia, in extremis, que uma obra sua pudesse ser candidata a um qualquer prémio literário, nem que fosse nos jogos florais promovidos por uma junta de freguesia do interior por alturas dos santos populares.

Agora a câmara de Lisboa, senhora libertina, de meia idade, bem conservada, de formas robustas, sem próteses de silicone nas mamas, por muito que as mesmas lhe venham a ser apalpadas, abusivamente e a despropósito, por frequentadores nocturnos das vielas estreitas do Bairro Alto e dos bares à beira rio. Cujo aspecto, reconheça-se, o Dr Santana tudo tem feito para subverter-lhe, lambuzando-lhe as faces, removendo-lhe o rimel e, até, encurtando-lhe a fragrância do perfume. Espalhando cartazes, cada um com vinte metros quadrados, por tudo o que é sítio, como se fosse o Fântomas, a dizer: passei por aqui e, como o criminoso, hei-de voltar ao local do crime. E o que fez em cada um desses sítios? Não o digo naquele português que toda a gente entende, mesmo quando de seguida fica nervosamente enrubescida. Mas, quando muito, abriu um buraco, pôs uma grelha numa sarjeta, descerrou lápides no novo estádio da Luz.

Vem de lá, com dois anos de antecedência, o Dr Carrilho a perfilar-se na formatura para lhe disputar o lugar. Tenha calma, preocupe-se um pouco mais com a família e, nos intervalos, vá pensando num projecto para a cidade. Como todos exigem e como, para variar, todos prometem. E depois, para que nada varie, nenhuns cumprem! Ou só pretende afiambrar-se como os outros e atirar-se às mamas da D. Lisboa para lhas apalpar?

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