9 de janeiro de 2004

Nunca quis ser deputado…

Trabalho: Palácio de S. Bento!Uma das coisas que eu nunca quis ser na vida foi deputado. E, pelo vistos, deve haver muita gente que, solidariamente, rejeita comigo essa pretensão. Só assim se compreende que eles sejam tão poucos, não passando de 230. Até mais do que isso! Alguns, quando conseguem libertar-se, pura e simplesmente emigram. A maior parte das vezes para Estrasburgo onde, como sabem, voluntariamente se sacrificam por um futuro melhor e pelo país. Os que ficam, os resistentes, são figuras cuja heroicidade, honestamente, a comunidade não reconhece. Por isso têm, todos eles, o ar triste e macilento de quem está preso e incomunicável, longe do recreio e da luz do sol. Se duvidam atentem no Dr Almeida Santos, - com o estigma de quem cumpre prisão perpétua - no Dr Dias Loureiro, mesmo a tempo parcial, no Dr Narana, no Dr Carvalhas ou no Dr Louçã, que não sei onde vai desencantar energias para falar tanto.

A principal razão porque nunca quis ser deputado foi pelo excesso de trabalho e pelo facto de, por deliberação do respectivo presidente, as horas extraordinárias não serem remuneradas. O cargo é mal pago, pouco mais de dez vezes o salário mínimo, e isto anda o Dr Almeida Santos a repetir, inutilmente como se pregasse aos peixinhos, há quase trinta anos. Sai-se tarde, às vezes entra-se pelas madrugadas e têm de suportar-se as invasões das galerias enquanto o presidente não manda que a polícia as evacue.

Depois é preciso legislar sobre tudo para que o país ande organizado e direito e seja o orgulho de cada um de nós. Como é! Para que seja o espelho da Europa, a que já é e a que há-se der. Fazer leis para tudo. Para permitir que os deputados vão em trabalho político para as Caraíbas ou para as Maldivas. Para que possam desdobrar viagens em classe executiva e levem as famílias. Para que sejam, por isso, acusados de falcatrua e para que o tempo faça prescrever tudo. Para serem condecorados no 10 de Junho e para irem ao S. João do Porto. Para legalizar e ilegalizar partidos políticos. Para lhes atribuir subsídios e para os obrigar à posse de contabilidades transparentes. Para os obrigar ao cumprimento das leis. E, especialmente, para permitir que as não cumpram. Sobre o que, ao menos, dá gosto ter conhecimento de que há unanimidade e de que todos se entendem!

Mas, para mim, era trabalho a mais. Até mesmo ao domingo teria que ir ao futebol, eu que nem sequer gosto de bola. Safa!

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