O sítio que é Portugal precisa é de bom senso!
Como escrevia Manuel da Fonseca, antigamente o largo era o centro do mundo. Segundo a terminologia dos dias que correm, dir-se-ia que o centro foi entretanto "deslocalizado", que é termo que não consta do dicionário barato e provavelmente desactualizado de que me socorro. Hoje, o centro do mundo é o universo constituído por uma carta anónima que, por ironia do destino e desorganização dos serviços, como na Torre do Tombo, foi aterrar no meio dos muitos milhares de páginas que já integram o chamado processo da Casa Pia, e onde são mencionados os nomes do presidente da república e do comissário europeu António Vitorino.
Divulgado o facto, a país tomou posição e as diversas companhias da tropa fandanga alinharam-se na parada, em formatura regular, esgrimindo argumentos. Pedia-se a cabeça do procurador do ministério público e o coração, extraído pelas costas, à maneira da época de Inês de Castro, do procurador geral. A direcção do Benfica quase chegou ao colapso e a equipa principal, de imediato, meteu no saco três do Sporting. O presidente e um vice-presidente persistem ainda, sentados à mesa, ao velho exercício do braço de ferro, a ver quem verga.
Como nas bancadas do antigo estádio das Antas, cada soldadinho sabe da estratégia que chega sempre à vitória e de todas as leis do jogo que o árbitro aprendeu sempre de modo superficial numa acção de formação de fim de semana, durante o defeso. Para logo de seguida, predilecto do senhor major Valentim, ser nomeadamente sorteado para um jogo em que dava jeito. E em que obrigatoriamente se comportou à maneira.
Tomou-se partido. Apaixonadamente, que não somos gente sem coração e sem sentimentos. Sobre a relevância dos nomes e a irrelevância da carta. Anónima, ainda por cima. E não trazendo no sobrescrito a marca de dia dos correios e o nome da localidade de onde provinha.
Defendeu-se que deveria ter sido arquivada à parte, ignorada, deitada ao lixo, destruída, enviada para os arquivos nacionais onde, ao que se crê, nunca ninguém mais voltaria e encontrá-la. Mesmo que quisesse! Que não, humilhado e ofendido o presidente da república deveria pronunciar-se. Sem perder tempo, fazendo uma pausa, deixando a situação amadurecer um pouco a ver se o frio de inverno arrefecia cabeças tontas e quentes demais.
Pronto. O presidente falou, como toda a gente antecipadamente sabia que iria falar. Com a emoção a perturbar-lhe a voz e a intenção consensual. Não se defendeu de nada porque não era acusado de nada. Manifestou-se ofendido, apelou ao senso comum que o país persiste em não saber o que é e solicitou o empenhamento dos intervenientes numa moderada contenção.
Nem surrealisticamente o Dr Louça, ou o Dr Alberto João - que são muito próximos no que respeita a ideias! - esperaram que pudesse ter agido de diferente maneira. Nem mesmo, creio, os senhores Mário Cesariny ou Cruzeiro Seixas, que são de todo resistentes surrealistas.
Foi naturalmente criticado, como se podia esperar. Foi brando, foi ambíguo, nada se percebeu daquilo que disse. Foi também naturalmente elogiado, como se podia prever. Foi sóbrio, demonstrou bom sendo, emocionou-se, apelou tranquilamente à contenção. No meio de tudo parece que o professor Freitas disse que se tinha pessoalmente empenhado, no passado, para ajudar à construção de um sistema e de um conjunto de valores que via agora rapidamente esvaírem-se.
Com redobradas razões se pôs de novo em causa o segredo de justiça. De leste a oeste e de norte a sul, sem que a alusão aos pontos cardeais pretenda sugerir nenhum disparatado posicionamento político. Aquilo é coisa que está escrita e que ninguém respeita. Ou melhor, que todos violam no momento e pela forma que lhes possa trazer maiores proveitos. Como em qualquer hipermercado do engenheiro Belmiro!
A chamada comunicação social - que não informa e que pouco comunica - limitou-se a ser veículo de divulgação. Como os valentes, atirou a pedra e, rapidamente, escondeu o braço na botoeira do casaco. Apenas reclamou para si, como sempre, o direito a informar, embora cada vez saiba menos o que isso é. A liberdade de expressão é interpretada extensivamente e tomada por completa irresponsabilidade. É quase como ser-se deputado e recusar a presença perante a justiça, a pretexto da imunidade parlamentar.
A sociedade a que farisaicamente chamamos civilizada enterrou valores como a ética, a deontologia e as regras elementares de convivência a que chamaríamos consciência colectiva ou senso comum. Já vale tudo, desde que se vendam os detergentes, como diz o Dr Rangel. Não vamos longe e tememos que o professor Freitas tenha razão. Ele e muitos outros que se empenharam tanto como ele. Ou mais do que ele.
Divulgado o facto, a país tomou posição e as diversas companhias da tropa fandanga alinharam-se na parada, em formatura regular, esgrimindo argumentos. Pedia-se a cabeça do procurador do ministério público e o coração, extraído pelas costas, à maneira da época de Inês de Castro, do procurador geral. A direcção do Benfica quase chegou ao colapso e a equipa principal, de imediato, meteu no saco três do Sporting. O presidente e um vice-presidente persistem ainda, sentados à mesa, ao velho exercício do braço de ferro, a ver quem verga.
Como nas bancadas do antigo estádio das Antas, cada soldadinho sabe da estratégia que chega sempre à vitória e de todas as leis do jogo que o árbitro aprendeu sempre de modo superficial numa acção de formação de fim de semana, durante o defeso. Para logo de seguida, predilecto do senhor major Valentim, ser nomeadamente sorteado para um jogo em que dava jeito. E em que obrigatoriamente se comportou à maneira.
Tomou-se partido. Apaixonadamente, que não somos gente sem coração e sem sentimentos. Sobre a relevância dos nomes e a irrelevância da carta. Anónima, ainda por cima. E não trazendo no sobrescrito a marca de dia dos correios e o nome da localidade de onde provinha.
Defendeu-se que deveria ter sido arquivada à parte, ignorada, deitada ao lixo, destruída, enviada para os arquivos nacionais onde, ao que se crê, nunca ninguém mais voltaria e encontrá-la. Mesmo que quisesse! Que não, humilhado e ofendido o presidente da república deveria pronunciar-se. Sem perder tempo, fazendo uma pausa, deixando a situação amadurecer um pouco a ver se o frio de inverno arrefecia cabeças tontas e quentes demais.
Pronto. O presidente falou, como toda a gente antecipadamente sabia que iria falar. Com a emoção a perturbar-lhe a voz e a intenção consensual. Não se defendeu de nada porque não era acusado de nada. Manifestou-se ofendido, apelou ao senso comum que o país persiste em não saber o que é e solicitou o empenhamento dos intervenientes numa moderada contenção.
Nem surrealisticamente o Dr Louça, ou o Dr Alberto João - que são muito próximos no que respeita a ideias! - esperaram que pudesse ter agido de diferente maneira. Nem mesmo, creio, os senhores Mário Cesariny ou Cruzeiro Seixas, que são de todo resistentes surrealistas.
Foi naturalmente criticado, como se podia esperar. Foi brando, foi ambíguo, nada se percebeu daquilo que disse. Foi também naturalmente elogiado, como se podia prever. Foi sóbrio, demonstrou bom sendo, emocionou-se, apelou tranquilamente à contenção. No meio de tudo parece que o professor Freitas disse que se tinha pessoalmente empenhado, no passado, para ajudar à construção de um sistema e de um conjunto de valores que via agora rapidamente esvaírem-se.
Com redobradas razões se pôs de novo em causa o segredo de justiça. De leste a oeste e de norte a sul, sem que a alusão aos pontos cardeais pretenda sugerir nenhum disparatado posicionamento político. Aquilo é coisa que está escrita e que ninguém respeita. Ou melhor, que todos violam no momento e pela forma que lhes possa trazer maiores proveitos. Como em qualquer hipermercado do engenheiro Belmiro!
A chamada comunicação social - que não informa e que pouco comunica - limitou-se a ser veículo de divulgação. Como os valentes, atirou a pedra e, rapidamente, escondeu o braço na botoeira do casaco. Apenas reclamou para si, como sempre, o direito a informar, embora cada vez saiba menos o que isso é. A liberdade de expressão é interpretada extensivamente e tomada por completa irresponsabilidade. É quase como ser-se deputado e recusar a presença perante a justiça, a pretexto da imunidade parlamentar.
A sociedade a que farisaicamente chamamos civilizada enterrou valores como a ética, a deontologia e as regras elementares de convivência a que chamaríamos consciência colectiva ou senso comum. Já vale tudo, desde que se vendam os detergentes, como diz o Dr Rangel. Não vamos longe e tememos que o professor Freitas tenha razão. Ele e muitos outros que se empenharam tanto como ele. Ou mais do que ele.
0 Comentários:
Enviar um comentário
Subscrever Enviar feedback [Atom]
<< Página inicial