24 de fevereiro de 2004

Cozido à portuguesa atravessado na goela

Ninguém esperava, mesmo hoje, terça-feira gorda, que o esqueleto da Dra Manuela Leite pudesse esconder a caveira atrás de uma máscara da Barbie, a brincar de ministra das finanças numa terra de faz de conta. Aquele ar sisudo, o sobrolho carregado, as sobrancelhas densas e o fato tradicional não auguram nada de bom. Mas não era preciso chegar a tanto, o dia era de folia mesmo que o Dr Barroso ache que o país está de tanga e que o tempo, francamente, não tenha convidado muito ao seu uso, por causa dos resfriados.

Mas a Dra Manuela Leite fez com que 200 genuínos portugueses, se calhar alguns deles com os impostos rigorosamente em ordem, talvez outros bem sucedidos empresários e convictos patriotas, tivessem hoje ficado com as carnes fumadas do cozido à portuguesa atravessadas nas goelas. O que, valha-nos isso, impediu o estridente berro de revolta e um simulacro de grito do Ipiranga II, na margem de um dos ribeiros poluídos e quase secos cujos vales esventram as províncias do país.

Segundo as notícias que foram sendo divulgadas, sem que hoje seja o dia das mentiras, foi salientado que, devido a sinais exteriores de riqueza, o fisco está a apertar o cerco a 200 portugueses. Que descanso terão, doravante, os prósperos industriais e competentes gestores do vale do Ave que, à custa de grandes sacrifícios e muita poupança, conseguiram construir uma modesta moradia de cem mil contos e comprar automóveis para a família no valor de mais cinquenta mil? Mesmo que honestamente tenham inteiramente declarado o salário mínimo que auferem e as despesas de farmácia que suportam com a sogra, reumática, com quem coabitam?

E o senhor Manuel Damásio? Coitado! Mesmo que tenha ganho muito dinheiro na bolsa, o senhor Pedro Caldeira ficou-lhe com grande parte dele. Os seus rendimentos são escassos e a sua casita, na Quinta da Marinha, foi comprada em saldo ao mister Joe Berardo, apenas por quinhentos mil contos. O que lhe atrapalha a vida não é, felizmente, a conta da farmácia da sogra. Mas os gastos da D. Margarida em roupa interior e ainda a sua serôdia decisão de ter ido estudar História da Arte. Com as propinas ao custo que estão!


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