25 de fevereiro de 2004

Não se confunda toucinho com velocidade

Nós portugueses, somos muito atreitos a fazer uma série de confusões que muito nos embaraçam quando nos decidimos a pensar um pouco. Talvez isso decorra do facto de, pura e simplesmente, estarmos muito habituados a que outros pensem por nós. Aconteceu assim com o Dr Salazar que, inspirando-se de terço em riste, foi pensando por nós todos durante quase meio século. O professor Marcelo Caetano sucedeu-lhe, sem que ele soubesse - o morto-vivo! - e foi pensando por nós, como homem normal que na altura disse ser, empunhando o Código Administrativo. Depois houve a revolução de Abril de 1974, os militares saíram à rua e convenceram-se de que também podiam pensar por nós todos. Equivocaram-se! Tanto que alguns actuais democratas, que o são pelo menos há cinco gerações, como os Drs Portas e Pacheco Pereira, chamaram-se a si a suprema tarefa de deixarem de pensar pela maralha e passaram, inteligentemente, a pensar por si próprios e em seu próprio proveito. Não temos sido felizes com a solução e nada indica que o venhamos a ser. Mas vamo-nos conformando e abstendo-nos cada vez mais nos diversos actos eleitorais. Dos quais, refira-se em abono da verdade, os actuais eleitos bem acham que se poderia prescindir. Porque legitimamente se sentem a elite, a fina flor, sem hipóteses de encontrar melhor em eleições futuras. Por patriotismo, como sempre, estariam na disposição de pensarem por eles vitaliciamente, como o Dr Almeida Santos. Apesar de, como ele, estarem todos escandalosamente mal pagos, vendo-se forçados a trabalhar para além da idade em que se pode requerer a reforma.

Com isto tudo acabamos a confundir alhos com bugalhos e, frequentemente, toucinho com velocidade, coisa que não faz sentido nem para o Michael Schumaker. Com a erudição de gente letrada, que muito escreve para jornais e que muito fala de cátedra em conferências pagas, vem sendo ultimamente referida com insistência a hipótese de se verificar nas sociedades no nosso tempo uma perigosa tendência anti-semita. Não o cremos e, bem ao contrário, não se vem fazendo a confusão de coisas distintas. O problema de Israel não pode confundir-se com a generalidade semita. Que o Sr W. Bush se não oponha, não diga palavra, sobre os métodos que o Sr Sharon vem seguindo é apenas sinal daquilo que todos já sabemos. Fá-lo por ignorância, por dependência e por impotência. Não cremos que o problema do médio oriente - ou da Palestina, para sermos mais exactos! - se venha a resolver com os atentados suicidas que se têm repetido. Mas, seguramente, não hão-de também resolver-se pela construção de muros de betão armado, tenham eles oito ou vinte metros de altura. O muro resolverá tanto com resolveu o de Berlim. Do qual, não sabemos a que propósito nem com que intenções, um bocado está em exibição no santuário de Fátima. Como se fosse coisa que se adorasse!

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