28 de março de 2004

O Dr Bagão, a carga fiscal e os índices de natalidade

Há dias foram divulgados indicadores do INE relativos à população deste rectângulo, desesperançado, à beira mar plantado. Relativamente ao ano de 2002 verificaram-se menos nascimentos e mais óbitos, menos casamentos e menos divórcios. Quanto aos nascimentos reafirma-se uma conclusão estatística que nem sequer é de agora: temos dos mais baixos índices de natalidade da Europa.

Quase na mesma altura alguém se dava ao cuidado de fazer contas pela quadragésima quinta vez, sobre os benefícios fiscais que aproveitam a um casal desfeito, com dois filhos, por comparação com um casal à antiga portuguesa, fiel a um casamento para a vida e para a morte, como teve o cuidado de lhes referir o padre que os casou.

Não cabem aqui as muitas considerações que estas questões despertam em nós e que, muito mais fundamentadamente, deveriam despertar nos responsáveis, embora não despertem. Mas diga-se, de passagem e apesar disso, quanto à natalidade, que deveria haver propósitos e projectos para inverter a situação ou, no mínimo, para lhe reduzir a dimensão. Não é esta, como sabemos, a vocação dos nossos políticos. Que não têm projectos e que, quanto a ideias, se ficam muito aquém das do professor Pardal dos livros de quadradinhos da nossa juventude.

Quanto à incidência fiscal sobre os casais desmantelados, de há muito se sabe também como e a quem isso aproveita. E fases houve em que, com essa única intenção, muitos casais formalmente se desfizeram para recolherem os frutos possíveis. Depois, aparentemente, a questão perdeu fulgor porque a evasão fiscal se tornou mais fácil, generalizou-se, passou a ser - como é - normal declarar rendimentos de cem e gastar duzentos. Como? Simples! Ou sendo severamente forreta, tipo Manuel Damásio, ou alegando herança recebida da tia solteira e rica ou ainda, tipo Pedro Caldeira, ter ganho muito dinheiro na bolsa de valores.

O país, como se dizia em "post" anterior, tem um ministério da administração interna. E também tem um ministério cujo nome deveria ser o do desemprego e da insegurança social. Mas, ao contrário do anterior, este tem um titular. Largamente apoiado, pelo menos quando, de cachecol ao pescoço, se esparrama na tribuna do estádio da Luz para assistir ao Benfica - Estrela da Amadora. Seis milhões, segundo contagem do Sr Manuel Damásio, gritam o seu nome, como benfiquista. Ao invés, fora do estádio, os mesmos seis milhões vaiam-no e cobrem-no de impropérios, como governante.

Confrontado com ambas as situações descritas o Dr Bagão manifestou desagrado. Não por palavras, mas viu-se pelo sobrolho carregado, quase se confundindo com o da Dra Manuela Leite em dia de reunião de negociações com aquele Sr Picanço, sobre os aumentos do funcionalismo. De palavras foi parco e contido, graças a Deus. Porque se mais abrira a boca maior disparate se lhe teria de também ouvir. Disse ele que a fiscalidade não aumenta o número de nascimentos!

O que é brilhante porque vem em defesa de teses que um seu colega de partido, - perdão, o homem é independente, quase nos esquecíamos disso! - que teve a honra de poema manuscrito e dedicado à sua pessoa por Natália Correia, quando assegurou aos parlamentares seus colegas que o acto sexual era para fazer filhos. Bagão Félix, anos depois, vem lucidamente reafirmá-lo. A fiscalidade pode ser um grande coito, mas não aumenta o número de nascimentos. Para o número de nascimentos, tenha-se isso presente, é o acto sexual. Como ensinou João Morgado, que tinha feito só um filho. E a nós a fiscalidade não fez nenhum. Mas tenta!

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