Os equívocos sobre a lucidez
José Saramago foi galardoado com o Prémio Nobel da Literatura em função do conjunto da sua obra. Literária, naturalmente. Não cabe na cabeça de ninguém que o tenha sido pelas suas descobertas no âmbito da química ou sequer em resultado da sua actuação em favor do bem do próximo, à semelhança da madre Teresa de Calcutá.
Lançou agora o seu Ensaio sobre a lucidez, um novo romance, ou seja, mais uma obra de ficção. A literatura é, como a música ou a pintura, uma manifestação de arte. E nunca a arte conseguiu afastar-se tão completamente da realidade social circundante que tivesse sido capaz de a ignorar. Por mais árdua e persistente que tenha sido nos percursos feitos.
Daqui para a frente é perfeitamente abusivo que se pretendam extrapolar premissas de um romance para a realidade política em que subsistimos, por mais miserável que esta seja. Achou a editora aproveitar o lançamento do livro para uma provocação alargada, convidando pessoas com percurso político relevante. Descobriu, com isso, a mais forte alavanca de promoção que poderia ter imaginado e, coisa rara no analfabeto mercado português, a primeira edição sai para os escaparates com cem mil exemplares.
Entenderam os convidados o propósito do convite que lhes foi feito e assumiram a provocação. A nosso ver uma das mais lúcidas posições é defendida por Mário Soares, embora parta de pressuposto incorrecto. Recusa a hipótese significativa do voto em branco numa perspectiva real e afirma que à democracia apenas se deve opor mais democracia, para a melhorar, para a fazer evoluir, para levar o cidadão a participar cada vez mais. Teoricamente o princípio está certo. Na prática e no caso português à democracia tem-se oposto sempre menos e pior democracia, com maior afastamento do eleitor que não participa e se não vê sequer representado, ainda que remotamente.
O resto é irrelevante. Interessa lá que Saramago eleitor seja candidato em eleições reais e que Saramago ficcionista romanceie a defesa no voto em branco! Interessa é mudar o sistema, afastar da política profissional os oportunistas, os corruptos e os demagogos. Nisso é que estamos interessados e isso, infelizmente, não é ficção nenhuma!
Lançou agora o seu Ensaio sobre a lucidez, um novo romance, ou seja, mais uma obra de ficção. A literatura é, como a música ou a pintura, uma manifestação de arte. E nunca a arte conseguiu afastar-se tão completamente da realidade social circundante que tivesse sido capaz de a ignorar. Por mais árdua e persistente que tenha sido nos percursos feitos.
Daqui para a frente é perfeitamente abusivo que se pretendam extrapolar premissas de um romance para a realidade política em que subsistimos, por mais miserável que esta seja. Achou a editora aproveitar o lançamento do livro para uma provocação alargada, convidando pessoas com percurso político relevante. Descobriu, com isso, a mais forte alavanca de promoção que poderia ter imaginado e, coisa rara no analfabeto mercado português, a primeira edição sai para os escaparates com cem mil exemplares.
Entenderam os convidados o propósito do convite que lhes foi feito e assumiram a provocação. A nosso ver uma das mais lúcidas posições é defendida por Mário Soares, embora parta de pressuposto incorrecto. Recusa a hipótese significativa do voto em branco numa perspectiva real e afirma que à democracia apenas se deve opor mais democracia, para a melhorar, para a fazer evoluir, para levar o cidadão a participar cada vez mais. Teoricamente o princípio está certo. Na prática e no caso português à democracia tem-se oposto sempre menos e pior democracia, com maior afastamento do eleitor que não participa e se não vê sequer representado, ainda que remotamente.
O resto é irrelevante. Interessa lá que Saramago eleitor seja candidato em eleições reais e que Saramago ficcionista romanceie a defesa no voto em branco! Interessa é mudar o sistema, afastar da política profissional os oportunistas, os corruptos e os demagogos. Nisso é que estamos interessados e isso, infelizmente, não é ficção nenhuma!
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