1 de abril de 2004

Viva a ditadura democrática da economia

Em tempos idos recordo-me de um título aparentemente contraditório na primeira página de um jornal: Viva a ditadura democrática do proletariado. Com os ventos da mudança, que fizeram desabar o muro de Berlim, o império colonial português, - do Minho a Timor, um só povo, uma só nação! - a revolução bolchevique e a contenção que o medo de um bloco impunha ao medo do outro, podemos mudá-lo.

De facto deve ser doloroso um homem que fez da sua vida a perseguição dos cargos e das prebendas políticas ter de reconhecer que, afinal, é a economia que hoje fala, pressiona, ameaça e decide. Mário Soares já o veio dizer. Saramago, beneficiando da visibilidade que lhe tem dado o lançamento do seu Ensaio sobre a lucidez veio dizer que esta democracia cujas virtualidades os nossos incapazes políticos enaltecem, afinal não existe e não é democracia.

Um destes dias ouvia eu alguém dizer que a democracia não é como uma receita de bacalhau à Gomes de Sá que se prepara e se serve assim. Sempre! Dizia que era um ponto de partida, um processo dinâmico cuja tendência seria evoluir, sem nunca terminar. Por isso a nossa é um completo falhanço e uma farsa difícil de desmontar. Em vez de evoluir, retrocede. A qualidade da classe política piora a cada momento, se isso ainda é possível.

Veja-se o caso da liberalização do preço dos combustíveis e as pretensas justificações, de cabo de esquadra, que apresenta um homem que é primeiro ministro quando a empresa que domina o mercado decide aumentar os preços mais uma vez. Encapotadamente o país é dominado por monopólios de facto, que fazem o que lhes apetece e a quem sobra tempo. O mesmo se passa com a banca - nome dado à actividade legalmente reconhecida de agiotagem - que paga uma taxa mais reduzida de IRC e que quando as taxas de juro descendem retem sempre mais qualquer coisa para si. Como agiota impeniente e incorrigível. E onde a crise se nota, sobretudo pelo aumento dos lucros.

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