16 de julho de 2004

Obras de Santa Engrácia perdem monopólio

A globalização chega a tudo. Onde ainda não chegou, ameaça. Prudentemente as instituições e as pessoas previnem-se. Acautelam-se. Tomam previdências. Os serviços públicos criam novas direcções, recrutam directores e subdirectores no exterior. De forma expedita, sem concurso. Seleccionam os melhores, os que têm cartão e sabem de cor e salteado a salve rainha que interessa. A pretexto da globalização o país vive em pânico. O cidadão comum não sabe o que isso é, mas sabe que não é bom. Os idosos convencem-se de que ela os fará morrer mais cedo.

As obras que nunca acabam deixaram de ser monopólio de Santa Engrácia. Têm hoje, no que respeita a Lisboa, a concorrência feroz do túnel do Terreiro do Paço. Pelo menos. Que começou a ser escavado em 1994, mesmo sem autorização da tutela, para poupar tempo e dinheiro. Como no Centro Cultural de Belém, na Expo 98, na Ponte Vasco da Gama na Casa da Música. Passados cinco anos nem o governo acreditava que pudesse estar pronto em 2002 e custar os 24 milhões de contos inicialmente previstos. Seria uma ignomínia. Desde início que houve dúvidas sobre o local por onde o tunel deveria passar, devido à conhecida fragilidade do solo. Em 1999 o advogado José Sá Fernandes atrapalhou-lhe a marcha, embora por pouco tempo. O progresso não pode parar, o futuro nunca espera pelos retardatários.

À semelhança de quem o concebeu e o pôs em marcha, a 9 de Junho de 2000 o túnel começou a meter água, a terra abateu e o solo continuou a afundar-se lentamente. Decidiu-se inundá-lo de vez. Um ministro da época atribuiu a culpa ao excesso de confiança, a modos da selecção antes do jogo contra a Grécia. Avesso ao celibato anunciou que a culpa teria noivo e acabaria casada. Foram-se fazendo acusações, aos árbitros, às mulheres, aos progenitores e aos filhos. Prometia-se o fim das obras para 2003. Em Julho de 2004 um miúdo que ainda aprende a tabuada e sabe subtrair conclui que passaram dez anos. João Soares só se apercebera de uma diferença de menos de um milhar de votos. A culpa ia ficando irreversivelmente para tia. Desflorada e violada vezes sem conta, nenhum malandro a levava ao altar. Faziam-lhe filhos e não assumiam a paternidada.

Arrojado, o ainda ministro das obras públicas admitiu em Dezembro passado que havia alguns atrasos. Com coragem, arriscando imagem, funções e presença na televisão do Estado. Agora vai-se embora para ser presidente de uma coisa para que não foi eleito, o que está na moda. O Dr Sampaio dá-lhe uma oportunidade mas todas as tardes apontará de Belém o seu óculo de longo alcance, a ver se as pessoas ainda atravessam o estaleiro do Terreiro do Paço. Em 2005 a obra deve estar concluída. A menos que o rio seque de todo. Sempre ajudaria a ganhar alguns meses na cerimónia do corte da fita.

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