A olímpica glória da selecção de futebol em Atenas
Graças a Deus que está salva a honra do convento e recuperado o orgulho nacional ou a auto-estima para usar termo mais adequado a estes tempos modernos. Há dois dias atrás, depois de três jogos disputados, duas derrotas sem espinhas, três expulsões e a eliminação tardia eu próprio salientava que a comunicação social havia sido eliminada do torneio olímpico de futebol. Porque a comunicação social trata todos os assuntos como se estivesse a vender detergentes e com o mesmo rigor milimétrico que, a olho nu, se pode determinar a distância da Terra à Lua.
O país está cada vez mais assim: convencido do que não é e arrogante como não pode. Sai à rua com as solas dos sapatos rotas, a meterem água neste Agosto de chuva intensa e lágrimas esparsas, não se cansando todavia de apregoar que foram importados de Itália. Mesmo que tenham sido feitos algures, numa qualquer fabriqueta de Felgueiras. Exibe roupas caras de Armani, como se fosse o José Castelo Branco mas, por baixo, não usa nem tanga nem ceroulas, ou trás as cuecas borradas.
Não vale a pena invocar o Euro 2004. Se o país não aprendeu grande coisa em nove séculos de história não se pode esperar que o tenha aprendido em curtas duas semanas, com a Grécia a atravessar-se-nos no caminho por duas vezes de forma decisiva. Os nossos jovens partiram para as olimpíadas envergando uniformes desenhados por caros estilistas, de gravata ao pescoço e de colarinho desapertado, para cumprir calendário. Se se pudessem arrecadar as medalhas por correspondência teriam certamente participado a partir do Algarve, dominados os incêndios, enquanto petiscavam amêijoas à Bulhão Pato e se encharcavam em copos de cerveja.
As representações nacionais podem pecar por falta de qualidade e por excesso de convencimento. Mas nunca por reduzido número de elementos. Quaisquer dois atletas são desde logo escoltados por uma comitiva de uma boa dúzia de acompanhantes que, à borla, vão a sítios onde é difícil ir, mesmo com recurso ao crédito do Banco Espírito Santo. Se acaso se ganha alguma coisa - o que em regra é raro e imprevisível - toda a comitiva se atropela no desordenado monte que se forma para chegar ao herói, felicitá-lo, dar-lhe três beijos e um abraço, e ser convenientemente apanhado por uma câmara de televisão que leve as imagens até Marte e, com o devido respeito, até Sarilhos Pequenos.
Quando não se ganha nada - o que em regra é frequente e previsível - toda a escolta destroça e deserta, nem sequer conhece os intervenientes, apenas deu o seu afincado e patriótico contributo para que tudo corresse bem e os resultados fossem outros. Ainda agora com a olímpica selecção de futebol que fez um percurso de apuramento exemplar, tanto nos resultados como nas emotivas comemorações em que, pelo menos, terá deixado um balneário reduzido a escombros. Depois de justamente eliminada - a nossa querida televisão de serviço público diria tragicamente eliminada - os dirigentes apareceram para disparar em todos os sentidos, remota reminiscência dos livros de cowboys lidos no passado.
O sentido do interesse nacional, da manutenção do cargo, do ordenado e das mordomias a qualquer custo, felizmente, contribuiu para que Gilberto Madail - uma indefinível figura de meio homem, meio lobisomem - que superiormente tutela a Federação Portuguesa de Futebol, de conta e ordem do presidente da Câmara de Gondomar, tivesse resolvido a questão com a emissão de um comunicado que, tudo leva a crer, terá sido redigido por um dos gajos que moram por aqui. Para tanto bastou, como bastava, que pedisse desculpa aos portugueses que são uns sentimentalões que se desfazem em lágrimas por qualquer merda. Podes manter-te Madail, podes manter-te! E podes continuar a viajar e a pôr-nos os cornos à vontade que mantemos os braços abertos para acolher-te. Se te demites quem te paga o ordenado, as viagens e as pensões de cinco estrelas?
O país está cada vez mais assim: convencido do que não é e arrogante como não pode. Sai à rua com as solas dos sapatos rotas, a meterem água neste Agosto de chuva intensa e lágrimas esparsas, não se cansando todavia de apregoar que foram importados de Itália. Mesmo que tenham sido feitos algures, numa qualquer fabriqueta de Felgueiras. Exibe roupas caras de Armani, como se fosse o José Castelo Branco mas, por baixo, não usa nem tanga nem ceroulas, ou trás as cuecas borradas.
Não vale a pena invocar o Euro 2004. Se o país não aprendeu grande coisa em nove séculos de história não se pode esperar que o tenha aprendido em curtas duas semanas, com a Grécia a atravessar-se-nos no caminho por duas vezes de forma decisiva. Os nossos jovens partiram para as olimpíadas envergando uniformes desenhados por caros estilistas, de gravata ao pescoço e de colarinho desapertado, para cumprir calendário. Se se pudessem arrecadar as medalhas por correspondência teriam certamente participado a partir do Algarve, dominados os incêndios, enquanto petiscavam amêijoas à Bulhão Pato e se encharcavam em copos de cerveja.
As representações nacionais podem pecar por falta de qualidade e por excesso de convencimento. Mas nunca por reduzido número de elementos. Quaisquer dois atletas são desde logo escoltados por uma comitiva de uma boa dúzia de acompanhantes que, à borla, vão a sítios onde é difícil ir, mesmo com recurso ao crédito do Banco Espírito Santo. Se acaso se ganha alguma coisa - o que em regra é raro e imprevisível - toda a comitiva se atropela no desordenado monte que se forma para chegar ao herói, felicitá-lo, dar-lhe três beijos e um abraço, e ser convenientemente apanhado por uma câmara de televisão que leve as imagens até Marte e, com o devido respeito, até Sarilhos Pequenos.
Quando não se ganha nada - o que em regra é frequente e previsível - toda a escolta destroça e deserta, nem sequer conhece os intervenientes, apenas deu o seu afincado e patriótico contributo para que tudo corresse bem e os resultados fossem outros. Ainda agora com a olímpica selecção de futebol que fez um percurso de apuramento exemplar, tanto nos resultados como nas emotivas comemorações em que, pelo menos, terá deixado um balneário reduzido a escombros. Depois de justamente eliminada - a nossa querida televisão de serviço público diria tragicamente eliminada - os dirigentes apareceram para disparar em todos os sentidos, remota reminiscência dos livros de cowboys lidos no passado.
O sentido do interesse nacional, da manutenção do cargo, do ordenado e das mordomias a qualquer custo, felizmente, contribuiu para que Gilberto Madail - uma indefinível figura de meio homem, meio lobisomem - que superiormente tutela a Federação Portuguesa de Futebol, de conta e ordem do presidente da Câmara de Gondomar, tivesse resolvido a questão com a emissão de um comunicado que, tudo leva a crer, terá sido redigido por um dos gajos que moram por aqui. Para tanto bastou, como bastava, que pedisse desculpa aos portugueses que são uns sentimentalões que se desfazem em lágrimas por qualquer merda. Podes manter-te Madail, podes manter-te! E podes continuar a viajar e a pôr-nos os cornos à vontade que mantemos os braços abertos para acolher-te. Se te demites quem te paga o ordenado, as viagens e as pensões de cinco estrelas?
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