Segunda argola olímpica
Mais salgado do que insonso, tantos anos de trabalho queimando a vida e as pestanas. Para agora assim, acabar morto à má fila, às mãos sujas de um pequeno grupo de sacanas. Não chegam das duas mãos os dedos todos para contar os anos investidos. A escola primária, o rigor da professora, a força educativa da menina de cinco olhos e o exame brilhante, com distinção. O relógio de pulso ganho, dourado, a rebrilhar como se fosse ouro puro. Os parabéns do regedor, do abade e do padeiro. A vaidade, o orgulho, vale sempre mais ir à frente do que ser terceiro.
O liceu de seguida, os colegas novos e o primeiro namoro. Um pouco tarde, que o amor é às vezes fogo que não arde. Dificuldades nos exames, notas nem sempre altas, as saídas à noite e alguns copos. E já agora também uma ou outra bebedeira, não se diga que o vinho seja flor ou perfume que se não cheira. O triunfo e a chegada à faculdade para o curso de direito, o roteiro das repúblicas, a capa e o canudo. O orgulho da família e a festa que se seguiu, como se fosse no Entrudo. A opção profissional, mais tempo de estudo, a magistratura e a carreira.
O convite finalmente, anos passados, para cargo de destaque. Mais amigos, mais paródia e mais chatice. A carne é fraca e às vezes há coisas a que se não pode resistir. É uma vez sem exemplo, que se lixe. A imprevidência, a ingenuidade e algum desleixo. A conversa descuidada e telefónica com amigos ditos de Peniche. Vamos em frente, sem preocupações, que a ministra é fixe.
Não dá para acreditar, não pode ser que o director de uma tal polícia de investigação se sinta como gigante e aja como anão. E depois invente. Falou com o acreditado jornalista porque era amigo, casa comum, duas janelas e um postigo. Pelo telefone porque era o que tinha à mão, nunca lhe passou pela cabeça que a conversa pudesse ser gravada. Quanto mais roubada. Não foi tramóia nem desdita, foi cabala. Razão tinha o outro que o disse antes, sem dúvidas ou hesitação: foi cabala. Todo o mundo contra ele e os jornais, com a ministra demitida e os traidores habituais.
Quem acredita em fadas e varinhas de condão e consegue imaginar Salvado como cinderela de sapato perdido, arrastado pelo chão? Quem acredita em tão grande estudo para tão estranha ignorância? Quem acredita que lhe serve a ele o sapatinho que dá como perdido? Mais valia que, a ser assim, outra qualquer coisa, de preferência, tivesse sido. Ao menos cego, surdo e mudo. E já agora comedido!
O liceu de seguida, os colegas novos e o primeiro namoro. Um pouco tarde, que o amor é às vezes fogo que não arde. Dificuldades nos exames, notas nem sempre altas, as saídas à noite e alguns copos. E já agora também uma ou outra bebedeira, não se diga que o vinho seja flor ou perfume que se não cheira. O triunfo e a chegada à faculdade para o curso de direito, o roteiro das repúblicas, a capa e o canudo. O orgulho da família e a festa que se seguiu, como se fosse no Entrudo. A opção profissional, mais tempo de estudo, a magistratura e a carreira.
O convite finalmente, anos passados, para cargo de destaque. Mais amigos, mais paródia e mais chatice. A carne é fraca e às vezes há coisas a que se não pode resistir. É uma vez sem exemplo, que se lixe. A imprevidência, a ingenuidade e algum desleixo. A conversa descuidada e telefónica com amigos ditos de Peniche. Vamos em frente, sem preocupações, que a ministra é fixe.
Não dá para acreditar, não pode ser que o director de uma tal polícia de investigação se sinta como gigante e aja como anão. E depois invente. Falou com o acreditado jornalista porque era amigo, casa comum, duas janelas e um postigo. Pelo telefone porque era o que tinha à mão, nunca lhe passou pela cabeça que a conversa pudesse ser gravada. Quanto mais roubada. Não foi tramóia nem desdita, foi cabala. Razão tinha o outro que o disse antes, sem dúvidas ou hesitação: foi cabala. Todo o mundo contra ele e os jornais, com a ministra demitida e os traidores habituais.
Quem acredita em fadas e varinhas de condão e consegue imaginar Salvado como cinderela de sapato perdido, arrastado pelo chão? Quem acredita em tão grande estudo para tão estranha ignorância? Quem acredita que lhe serve a ele o sapatinho que dá como perdido? Mais valia que, a ser assim, outra qualquer coisa, de preferência, tivesse sido. Ao menos cego, surdo e mudo. E já agora comedido!
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