10 de agosto de 2004

Vou-me embora para Pasárgada

Com vossa licença ou sem ela, está um Verão filho da puta. Primeiro os incêndios. Indomáveis, violentos, lambendo o Algarve com labaredas de barlavento a sotavento. Cheguei a pensar que o tempo apenas tinha contencioso com o ex-ministro Figueiredo Lopes. Remodelado este, o processo era arquivado. Qual quê! Há o bicho da madeira para alimentar, escondido na toca do carvalho velho, correndo como caçador furtivo atrás do coelho amedrontado. O ministro foi-se e o fogo voltou. Nada como os fogos de África, o vermelho espalhado no horizonte, um aguarelista buscando paletas e pinceis sem nada digital. O horizonte é largo, parece que o perigo é inversamente proporcional. Não tem a ver com fogo, mas Camus sabia porque escrevia que em África o mar e sol são de graça.

Depois assim de repente. Dominados os incêndios, exaustos os bombeiros, esvaziadas as barrigas de água dos canadaires, apressa-se a chuva. Tarde e a más horas, respondendo aos chamamentos e às orações de valha-me Nossa Senhora e de salve-se quem puder. Persistente, contínua, estragando o veraneio, arrastando as cinzas pelas ribanceiras. Levando o perigo maior às estradas onde ele, impenitente, já circula sem tolerância zero e fora do turno da brigada de trânsito. Não dá para aguentar. Esta chuva temporã não tem o cheiro a terra seca. Vou apanhar o primeiro avião e vou-me embora para Pasárgada. Não dá para apanhar avião e seguir para a Sambizanga ou para o Makulusso. Ninguém que chega aí de camisa branca metida dentro das calças, cinto a lhes segurar e sapato novo a brilhar como espelho de ver o penteado!

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