5 de agosto de 2004

Presidente dominicano corrido à pedrada

Estudantes despediram-se do Presidente cessante da República Dominicana, Hipólito Mejía, nas imediações da Cidade Autónoma de Santo Domingo, quando este tentava, num dos seus últimos actos oficiais, inaugurar uma biblioteca. O mandatário transmite ao sucessor, Leonel Fernandez, no próximo dia 16. Os estudantes explicaram a sua atitude por o chefe de Estado pretender inaugurar uma biblioteca sem livros. O incidente só não teve piores consequências por os guarda-costas de Mejía terem disparado para o ar e dispersado os jovens.
[Jornal Público, Mundo, 05.08.2004]

Bem, vinda de longe e ainda que curta, a notícia sugere que nos detenhamos por momentos a pensar sobre o seu conteúdo. Primeiro para, felizmente, nos podermos congratular pelo facto de em Portugal, pequeno país situado no extremo ocidental da Europa, com novecentos anos de história, não ocorrer nada que se possa comparar ao descrito. Nem na atitude dos estudantes e, muito menos, nas atitudes e nos actos dos governantes. E, para mais, não ser sequer previsível que isso possa vir a acontecer antes do regresso de D. Sebastião das campanhas do norte de África, nem enquanto o Frei Beato Nuno de Santa Maria continuar a ser respeitosamente venerado como um verdadeiro santo.

Por um lado os estudantes são jovens responsáveis e pacíficos. Entregam-se ao estudo na perseguição de um canudo que, decerto, lhes garantirá o desemprego até aos 30 anos. Facilitam um pouco no período da queima das fitas, sem que a culpa seja deles. E disso se ressentem, antes e depois, as classificações. Especialmente a Português e a Matemática, o que não tem também nenhum especial significado. Por umn lado porque toda a gente usa nos dias que correm um computador e um corrector ortográfico. Plantado de pé, como um pequeno pinheiro bravio, a escrever estórias manuscritas sobre o tampo de uma escrivanhinha do século XIX, só mesmo se consegue imaginar o Dr António Lobo Antunes que, recorde-se, traz consigo, como antecedente comprometedor, a especialidade de médico psiquiatra. Um outro, o blogger Diogo Feio, que hoje responde, ele próprio, pela qualidade da educação. Este, ao que consta, para assegurar a invejável média de um erro por cada linha que escreve. O que não conseguiria de outro modo.

Por outro lado as eminências pardas que nos têm governado e que, até sermos um dos países mais desenvolvidos da Europa, hão-de para nossa desdita continuar a governar, é tudo gente de esmerada educação, sólidos princípios e inatacáveis procedimentos e vias de conduta. Ainda hoje a comunicação social noticia o comportamento perfeitamente espartano do Dr José Barroso, anteriormente também conhecido por Durão Barroso. Nos últimos 20 dias do seu governo terão sido feitas 38 nomeações. Obviamente nada de significativo: muito menos que um miserável cagagésimo que nem sequer se enxerga à vista desarmada. Apesar disso o troglodita ministro da presidência já subiu ao ringue e desferiu dois poderosos directos - de direita, já se vê! - deixando os caluniadores prostrados e não recuperando até ao final da contagem. Imediatamente desclassificados por KO, por decisão do emérito juiz.

Felizmente pertencemos à Europa. Dos vinte e cinco, como outrora se designavam algumas feiras de gado onde se vendiam juntas de bois e parelhas de burros. Estamos, como o governo, acima de qualquer suspeita. Somos um país onde ainda ninguém roubou nada que fosse seu. E quando atiramos pedras ao ar piramo-nos rapidamente, não vão elas abrir-nos a cabeça e levar-nos a engrossar as listas do ministro da saúde. Muitas vezes o que fica para trás são os telhados e, também muitas vezes, lá se vão algumas telhas de vidro. Mas estas não constam das estatísticas.


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