7 de setembro de 2004

Do projecto político e da goiaba

Ao que parece os três candidatos ao cargo de secretário-geral do Partido Socialista sentaram-se ontem, lado a lado, no conforto de um hotel lisboeta - sulista, elitista e liberal? -, a discutirem o que defendem para o país. O que não deixa de ser estranho e preocupante. Apenas porque a mim, pessoalmente, me intranquiliza a simples possibilidade do senhor Luís Filipe Vieira se recandidatar a presidente do Benfica anunciando as ideias que tem para o alargamento da União Europeia e para a democratização do Iraque. Porque se por um lado me conforta o facto de não ser sócio do Benfica, por outro me deprime a condição de europeu de pleno direito, desde que fora de águas territoriais, como mandam o ministro e os tribunais. E, pela força dos canhões, impõem as corvetas que ainda se mantêm à superfície, sem enjoo.

Depois, quanto à seriedade da nossa actualidade política, aguardo impaciente pela tal quinta das celebridades, com Picassos pendurados nas paredes lado a lado com Giocondas recauchutadas como a D. Alice de Caneças e Dalis, ressuscitados, agarrados ao sacho, lado a lado com Zé Castelo Branco, vestido por Armani, a tratar das batatas e dos nabos. A ver se a sopa de nabos de Gondomar, que o respectivo presidente da Câmara patrocina, paredes-meias com linhas de metro e campeonatos de futebol, consegue à mesa o mesmo número de comensais que o restaurante Toucinho, de Almeirim.

Vai-me soando, entretanto, que todos os três candidatos se confrontam no que ao país diz respeito com a questão do aborto e a indigitação de um candidato a primeiro-ministro. O que reconforta e, depois de três jaquinzinhos e duas cervejolas, certamente fará com que cada português exteriorize o orgulho de um incógnito elemento da claque dos superdragões de passagem por uma qualquer área de serviço na auto-estrada Lisboa-Porto. A continuidade do país está assegurada depois da honra e da dignidade nacionais terem sido heroicamente restabelecidas pelo ministro marítimo.

Quanto ao resto é esdrúxulo que se fale de candidatos ao cargo de primeiro-ministro, uma coisa que se não elege. Nem sequer apenas formalmente como o presidente do Futebol Clube do Porto ou simploriamente como o antigo chefe de turma, de olho vivo e pau de giz apontado ao quadro preto. Mas que se nomeia ao café de um jantar maçónico ou se requisita em comissão de serviço à Câmara de Lisboa. Alguém elegeu Santana Lopes? Ou já se esqueceram de quanto berraram e porque berraram? Ou será que, como seria capaz de dizer o caríssimo Ruy Goiaba, pimenta no cu dos outros é refresco no deles?

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