24 de setembro de 2004

Que a Disney não dê pelo plágio

Está de parabéns a D. Celeste Cardona. Despedida, sem justa causa, do cargo de ministra da Justiça, que o bastonário da Ordem dos Advogados persistiu em dizer que não existia, apresentou-se ao centro de emprego da sua área de residência. Inscreveu-se, passou a constar das estatísticas, lado a lado com um trolha de S. Pedro da Cova, um carpinteiro de limpos de Arcozelo e dois caixeiros de Miragaia. Agravou as taxas oficialmente divulgadas, pesou-lhe na consciência o facto de contribuir para o retardamento da propalada retoma, preocupou-se com o futuro do país.

Felizmente, quem tem amigos não morre na cadeia e, se tiver dinheiro, ainda a abandona mais depressa ou nem sequer lá vai dar com os costados. Segundo dizem, porque ainda faltam casos concretos que suportem a asserção, como é do domínio público e da memória do Sr Vale e Azevedo. E, sendo assim, ultrapassado o curto período de férias a que os deputados têm inalienável direito e o seu profícuo trabalho largamente justifica, teve a sorte pelo seu lado e assinou contrato a termo como deputada. Apenas por necessidades momentâneas, decorrentes da excessiva carga de trabalho acumulado durante o veraneio, disse-lhe quem a admitiu e assim, letra por letra, passou a escrito numa das cláusulas do contrato.

Mas o mal de uns é a sorte de outros. Mal tinha ficado dias antes o Sr Mira Amaral, privado do satisfatório ordenado que lhe pagava a Caixa Geral de Depósitos, remetido para a faixa da população não activa com uma pensão de reforma de curtos 3.600 contos mensais que o obriga a apertar o cinto como sugere o governador do Banco de Portugal e impõe o ministro das finanças. Valha o facto de poder utilizar o passe social e de viajar nos comboios beneficiando dos descontos para a terceira idade para visitar a descendência e conhecer as ruínas de Miróbriga.

Bem fica a D. Celeste que, pelo sim pelo não e à cautela, tinha em tempos deixado uma ficha de inscrição na direcção de recursos humanos da Caixa Geral de Depósitos, sendo informada que não havia vagas. De repente abre-se assim uma e a sua ficha de inscrição está no topo da resma que se acumula em cima da mesa do amanuense que as guarda. Sorte tem ainda quando a análise do seu currículo é confiada ao deputado Gonçalo Capitão - um espécime que, Deus me perdoe e a Disney não dê pelo plágio, me sugere de imediato o sortudo pato Gastão, vaidoso, convencido e inútil - que lhe descobre qualificações que ela mesma nunca imaginou possuir. E o emprego, em consequência, lhe é entregue. Anda feliz como se este fim de semana fosse o baile de debutantes em que vai ser apresentada à fina sociedade de Cascais. E ainda mais porque sente que contribui positivamente para a retoma que José Barroso deixou como herança e deixa de ser apenas um número nas estatísticas do desemprego. Quem lá continua a figurar, sem o espírito patriótico de aceitar o primeiro trabalho, é o trolha de S. Pedro da Cova. E o carpinteiro de limpos de Arcozelo. E os caixeiros de Miragaia. Um a um, como números!

1 Comentários:

Às 12:57 da tarde , Blogger António Balbino Caldeira disse...

Parabéns pelo blogue que não conhecia e a que cheguei por visita. Linkarei quando o Blogger me deixar...

 

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