A quase eslovaca saúde dos portugueses

No caso português isso nem comove nem preocupa. O português é, por ascendência e pedigree, mais do que saudável. Habitualmente nasce escorreito, mesmo que numa ambulância que presumivelmente se encaminhava com a mãe, em trabalho de parto, para uma maternidade ou um centro de saúde. Não padece de doenças congénitas e é temente a Deus como muito bem recomenda aquele italiano que o Dr José Barroso quer como comissário. A tísica foi um problema de saúde pública, foi quase extinta com a repressão que lhe foi movida pelo estado novo, está mais ou menos de volta sem que se possa dizer que tenha voltado a ser problema que roube espaço à importância da habilidade para a horticultura da D. Cinha.
Mesmo não sendo muitas vezes incluídos nas estatísticas, os casos de sida são diminutos. Ainda que os portugueses, por convicção e patriotismo, não utilizem preservativos. Melhor do que isso: abstêm-se! Não caiem nas calçadas, não metem os pés nos buracos das ruas, não têm nevralgias com o dia de S. senhorio ao dia oito e os hipermercados do engenheiro Belmiro, avisadamente, não vendem a crédito e não aceitam cheques que não sejam visados.
O português é tão saudável que o ministro da saúde reduz a comparticipação nos medicamentos, o Dr Cordeiro acha que as farmácias acabarão a vender revistas do coração e a aceitar apostas do totoloto e a fasquia para ingresso nas faculdades de medicina é intencionalmente alta para prevenir o desemprego futuro. Os poucos jovens médicos que terminam o internato alistam-se nos médicos sem fronteiras e viajam pelo mundo a prescrever vacinas contra a febre amarela e gotas para o nariz.. Os hospitais não têm listas de espera, a não ser de médicos à procura de primeiro emprego ou de um contrato a prazo por seis meses. Mesmo a limpeza é realizada por empresas externas e, pior do que isso, há muito pouco para limpar. Os doentes portugueses são poucos, recebem mal e são exemplarmente asseados.
Só por isso e só agora, por ironia do destino, descubro porque se usa dizer "vai morrer longe". Em Portugal, com tão resoluta saúde, é de facto difícil morrer-se. Como na Eslováquia, somos uma sociedade saudável que não necessita de grandes subsídios quando adoece. Apenas porque não adoece!
0 Comentários:
Enviar um comentário
Subscrever Enviar feedback [Atom]
<< Página inicial