Último acto
Pronto! Caiu o pano sobre a hipocrisia com que se encena o Natal em cada ano que passa. Apregoou-se a solidariedade, pregou-se a fraternidade, exprimiram-se sentimentos de dorida compaixão para com os indigentes, os vadios, os que nada devem nem à sorte nem tão pouco à dignidade. Num gesto único e pensado, responsáveis políticos interromperam as suas muitas tarefas e desceram ao povoado. Convocaram profissionais da comunicação, chamaram televisões e foram, de fato e gravata, participar nas cerimónias surrealistas dos jantares de bacalhau e batatas, servidos a pobres sem eira nem beira. Que não têm, em todo o dia, uma refeição quente, um alpendre onde se abriguem, um catre onde durmam duas horas.
Hoje a vida voltou à normalidade. As universidades continuarão a envolver brilhantes teóricos nos mais científicos estudos para acabar com a pobreza. O poder político promoverá conferências internacionais para debater a questão, ao abrigo de olhares indiscretos e de manifestações de pobres. Os ricos acharão que o são apenas na boca dos outros e nunca aceitarão como razoável o aumento do seu próprio pecúlio e invocarão a crise. Continuarão a pregar um selvagem neoliberalismo como o antídoto para todos os males, o único e verdadeiramente eficaz método contra a pobreza. De futuro, como prescreve a Câmara do Porto, é preciso não dar esmola a ninguém, nem aos arrumadores.
É um mundo estranho este reino de Pacheco, que pressiona as famílias para que se endividem e que, depois, vem publicamente queixar-se de que as mesmas não tiveram juízo e se endividaram para além das suas capacidades económicas. Enquanto isso as taxas de juro correm para montante, aos níveis da Cofidis ou da Cetelem, numa imparável mecânica de escravização. Porque, de facto, é de escravatura sem preceitos que se trata. A riqueza concentra-se à custa dos últimos resquícios de dignidade surripiados a quem já a não tem como bandeira. E mesmo assim a voraz banca lamenta-se da insuportável carga fiscal e do lento crescimento dos lucros, a míseros 15 por cento ao ano. O salário mínimo, para morrer à fome, sobe de forma exorbitante, à razão de alguns 2 por cento. Arredondado rigorosamente ao último cêntimo porque, em moeda arcaica, um cêntimo são dois escudos.
Os tribunais enchem-se de milhares e milhares de processos, a reclamar o pagamento de dívidas já vencidas, de dez euros cada uma, relativas a telemóveis que serviram para o engate, a canais de TV por cabo que alimentaram a visão erótica e a masturbação. Os funcionários não saberão para onde virar-se, os magistrados, instruídos e capazes, não saberão como julgá-los, que penas aplicar, como fazer que sejam justamente ressarcidos os prejudicados. Sendo obviamente prejudicados aqueles que não receberam, para que não haja confusões.
Hoje a vida voltou à normalidade. As universidades continuarão a envolver brilhantes teóricos nos mais científicos estudos para acabar com a pobreza. O poder político promoverá conferências internacionais para debater a questão, ao abrigo de olhares indiscretos e de manifestações de pobres. Os ricos acharão que o são apenas na boca dos outros e nunca aceitarão como razoável o aumento do seu próprio pecúlio e invocarão a crise. Continuarão a pregar um selvagem neoliberalismo como o antídoto para todos os males, o único e verdadeiramente eficaz método contra a pobreza. De futuro, como prescreve a Câmara do Porto, é preciso não dar esmola a ninguém, nem aos arrumadores.
É um mundo estranho este reino de Pacheco, que pressiona as famílias para que se endividem e que, depois, vem publicamente queixar-se de que as mesmas não tiveram juízo e se endividaram para além das suas capacidades económicas. Enquanto isso as taxas de juro correm para montante, aos níveis da Cofidis ou da Cetelem, numa imparável mecânica de escravização. Porque, de facto, é de escravatura sem preceitos que se trata. A riqueza concentra-se à custa dos últimos resquícios de dignidade surripiados a quem já a não tem como bandeira. E mesmo assim a voraz banca lamenta-se da insuportável carga fiscal e do lento crescimento dos lucros, a míseros 15 por cento ao ano. O salário mínimo, para morrer à fome, sobe de forma exorbitante, à razão de alguns 2 por cento. Arredondado rigorosamente ao último cêntimo porque, em moeda arcaica, um cêntimo são dois escudos.
Os tribunais enchem-se de milhares e milhares de processos, a reclamar o pagamento de dívidas já vencidas, de dez euros cada uma, relativas a telemóveis que serviram para o engate, a canais de TV por cabo que alimentaram a visão erótica e a masturbação. Os funcionários não saberão para onde virar-se, os magistrados, instruídos e capazes, não saberão como julgá-los, que penas aplicar, como fazer que sejam justamente ressarcidos os prejudicados. Sendo obviamente prejudicados aqueles que não receberam, para que não haja confusões.
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