27 de dezembro de 2004

Profissionais

Este blogue merece hoje uma curta referência no Jornal de Notícias, a par de outros de maior merecimento. Especialmente A Baixa do Porto, coordenado por Tiago Azevedo Fernandes que, aqui e agora o repetimos, desempenha funções de autêntico serviço público. Ali temos tido também generoso acolhimento, sendo certo que temos passado ao lado de polémicas e evitado discordâncias e atritos vazios e inúteis, seguindo um caminho solitário. Mas comungando sempre das posições que pugnam pelos interesses colectivos da cidade e tendo-os sempre por charneira incontornável em cada palavra escrita. A cidade não é a Câmara. A cidade é o conjunto dos que a habitam e é este conjunto que representa o tipo de cidade que somos. E a cidade será sempre aquilo que esse conjunto vier a ser.

O presidente da edilidade ter-se-á referido há alguns dias e a alguns participantes do A Baixa do Porto como sendo profissionais do contra. Seja-nos permitido reclamarmos o nosso quinhão no epíteto, desde que o Tiago Azevedo Fernandes o permita e desde que daí não venham à cidade maiores males. Para depois felicitarmos o Dr. Rio pela rara sensatez manifestada no uso do vocábulo profissionais.

Porque de um modo geral o que falta à classe política em cujas mãos depositamos os nossos destinos - e, infelizmente, o dos nossos filhos! - é exactamente o mais ténue sintoma de profissionalismo. E, lamentavelmente, a afirmação é válida a todos os níveis, desde as juntas de freguesia ao parlamento de onde, regra geral, emanam os governos que nos desgovernam.

No caso concreto da Invicta - a questão é doentiamente recorrente! - os exemplos de falta de profissionalismo estão espalhados pela cidade. Como o município tem tido direito a um novo presidente todos os quatro anos, excluindo o caso especial do Dr. Gomes cujo segundo mandato, como se verificou, foi uma excepção para que a regra se confirmasse, todos são culpados. Desde a actual vereação até à que, se a memória nos não falha, foi encabeçada por Aureliano Veloso. Quisesse Deus que as vereações fossem profissionais em qualquer coisa, que não fosse no embuste e na venda da banha da cobra que antigamente se fazia em frente à Imperial.

Mas não! Nenhuma lista se apresenta com ideias definidas sobre a cidade e com um projecto que possa mudar-lhe a camisa e restaurar-lhe a abalada saúde dos pulmões. Ainda hoje, numa entrevista ao mesmo jornal, o vereador responsável pelo urbanismo, classifica a Avenida da Boavista como uma estrada do terceiro mundo, a propósito da polémica que tem suscitado a linha do metro, enterrado ou de superfície. Viajado como o imagino o distinto vereador ter-se-á perdido pela Escandinávia e pelos fiordes e ilhas que a rodeiam e, mesmo assim, de olhos vendados.

Terceiro mundo, Dr. Morais, seria o senhor deixar a sua viatura de serviço e o respectivo motorista quietos nas traseiras dos paços do concelho. E depois disso, a pé, aventurar-se por todo o centro histórico da cidade para ver a degradação, contemplar as ruínas, extasiar-se com o abandono. E responsabilizar a herança, desde a Ferreirinha ao Marquês de Pombal e aos Almadas. As ruas nobres da baixa estão carregadas de ruínas que não são as do Carmo, desde Sá da Bandeira a Santa Catarina. As zonas que foram abrangidas pelo negócio da capital da cultura estão destruídas, desleixadas, ao abandono. Como a Rua Escura e a Viela do Anjo. E descobre o senhor, sem o saber e como Pedro Álvares Cabral, o caminho marítimo para a Índia. Quando vai a caminho da Foz…

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