25 de janeiro de 2005

O fórum

Com curto dispêndio em investigação e desenvolvimento o país é, de longe e mesmo assim, o que mais inventa. Então em período pré-eleitoral a azáfama é grande, o atropelo é constante, o despropósito é coisa que sai das mais sábias cabeças. De um momento para o outro o país descobre que os partidos que o governarão - salvo seja! - lhe reduzem o programa à realização ou não de debates nas televisões. Onde os candidatos, no conforto do estúdio, possam descansar da sua corrida diária por feiras e mercados, a treparem para furgonetas onde, de microfone a pilhas ao pescoço, propõem o negócio do século: a aquisição de cobertores para o frio, levando como brinde um guarda-chuva para a seca. Tudo só por uma nota de cinco euros!

Agora reparem bem no fórum surrealista que a criativa TSF nos propõe para a próxima quinta-feira: "como ultrapassar a desconfiança no sistema político-partidário". Não é nada que se relaciona com o descrédito do sistema, com o oportunismo dos seus participantes, com a inutilidade pública do seu contributo. Mais imaginosa ainda é a selecção dos convidados, com um elenco de luxo. Morais Sarmento, António José Seguro, António Filipe, Telmo Correia e Ana Drago. Assim um género de fórum em que se comete a Ali Babá e à sua quadrilha de 40 ladrões a discussão sobre a forma de ultrapassar o receio e a desconfiança dos assaltados.

Acha o médio eleitor portuense que os políticos são todos oportunistas e inúteis? Que melhor solução se lhe poderá propor que não a proveniente da boca do Dr. Sarmento em pessoa, conhecedor profundo dos hábitos da tartaruga gigante e dos bancos de coral dos mares tropicais? Desconsola-se o eleitor beirão por lhe mandarem candidatos do sudoeste alentejano sem que sequer saibam que o rio Mondego nasce na serra da Estrela? Quem mais indicado para lhe servir discursos a título de Prozac do que o Sr. António José Seguro? Acha o pequeno agricultor minhoto que é inútil continuar a cultivar duas couves porque não dispõe de meios para as escoar no mercado global? Ninguém melhor do que o Sr. António Filipe para lhe anunciar auto-estradas sem portagem e transporte gratuito até ao mercado da Ribeira, com direito a lugar sem pagamento de taxas. Estranha o produtor barrosão que não haja mais visitantes para as feiras do fumeiro e para as carnes fumadas do cozido à portuguesa? Remeta-se-lhe sem perda de tempo e na volta do correio o Sr. Telmo Correia que muito sabe sobre a capacidade hoteleira do sotavento algarvio e as respectivas taxas de ocupação. Queixa-se o idoso nacional da falta de apoio, da insuficiência da pensão, da extensão da lista de espera para a consulta por causa das varizes? Não se hesite e ponha-se em caravana, a circular pelo país, uma caminheta em que se distribuam folhetos sobre a sida e pequeninos copos de bagaço, a cortar o frio e o jejum. Sob a coordenação de Ana Drago!

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