19 de janeiro de 2005

TGVUUUM…

Quem invoca Júlio César e as suas observações sobre este estranho povo que nem se sabe governar nem deixa que o governem, na intenção de ridicularizar o país, fá-lo por despeito. Não tem razão quem acha que o país sobrevive à deriva, sem capacidade de se organizar, aproveitando o acaso de ventos e marés. Padece de iliteracia crónica quem pensa que o país é incapaz de elaborar projectos que sejam realizáveis com o rigor de pi arredondado ao primeiro milhar de decimais. É daltónico e está equivocado quem pensa que o país fomenta a rebaldaria em detrimento da sensatez e da exactidão. E, em conjunto, nem conhecem nem ouviram falar do ministro Mexia.

O país passou anos a deixar que este homem andasse pelo médio oriente a comprar petróleo em barris a troco de uns curtos milhares de contos de ordenado mensal que lhe pagava a empresa das refinarias. Só a visão futurista de Santana foi capaz de ver para além do quintal do vizinho e de descobrir a evidente analogia entre a gasolina de 98 octanas e as portagens nas SCUTS. E de, mais do que isso, descobrir a proximidade entre o legado de Eiffel e as necessidades do TGV. Hoje, orgulhoso, o país exulta com a entrada em funcionamento daquele meio de transporte em 2012 e com o acessível custo dos bilhetes. Velhinhas corcovadas e apoiadas a bengalas inscrevem-se para a consulta médica, a solicitarem a pílula milagrosa que lhes prolongue a vida para além de todas as inaugurações. Os poucos trabalhadores rurais que ainda se agarram à enxada, no propósito de enganarem a fome e a pobreza, impacientam-se com tão longa espera para poderem ir tomar a bica aos cafés do Rossio e assistir às representações no teatro nacional. O ministro, previdente, rigoroso e oportuno, anuncia para a véspera de eleições a cerimónia da apresentação da farda dos revisores e das modalidades dos passes sociais para o percurso de S. Bento à Moncloa.

Que o país, mesmo tardiamente e a desoras, saiba ser reconhecido e não hipoteque tão científico rigor a troco de um voto, seja lá a cruz marcada em que emblema for, desde que a esferográfica ainda risque. Saiba levar à gestão de tal projecto um outro homem de parecidos merecimentos e equiparadas habilitações. Um homem que seja polivalente - uma híbrida combinação de valentia e poliban -, capaz de reformar a educação, de inspirar o empresariado e de reconhecer cada nota das sonatas de Schubert mesmo quando os elevadores da Casa da Música o transportam ao piso superior onde lhe localizaram o modesto gabinete. Que o país seja capaz de convencer Couto dos Santos a aceitar o cargo mesmo a tempo parcial e bem remunerado. Para que leve o projecto a bom termo e leve o barco a bom porto como, com a inspiração da Senhora de Fátima, conseguiu com a Casa da Música. Que nesta altura, depois da sua nomeação, não apresenta desvios de calendário ou derrapagens financeiras. Quando antes era o que se sabe! Agora não! A Casa da Música ficará concluída em 2001, rigorosamente dentro dos limites do orçamento inicial, convertido para euros. A data de inauguração? Em Abril do ano de 2001 mais n!

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