17 de janeiro de 2005

Eleições – 1

Os políticos, como os impolutos dirigentes desportivos, vociferam constantemente contra o sistema que lhes asfixia os cargos e as pretensões. Nada de mais razoável, nada de mais inteligente, nada de mais vantajoso para o progresso da sociedade e a independência do país. Especialmente depois dos versículos do evangelho segundo o Dr. Soares Pai terem democraticamente reservado a todos o direito, composto e não violento, à indignação. Do desporto e das suas virtudes não é o momento para se falar, mesmo que se possam recordar as inflexíveis posições assumidas pelo governo, quanto à exigência para que os clubes profissionais de futebol paguem as dívidas que têm, como qualquer vulgar Manuel ou António. Se questionem os desmedidos contributos para a construção de estádios que ou estão parcialmente vazios ou se não sabe para que servem. Se possa enaltecer a atitude que, anos atrás, penhorou no Estádio das Antas o lavatório e a sanita da cabine da equipa de arbitragem, obrigando a que os seus elementos fossem para o duche a um balneário público que, ainda por cima, não tinha aquecimento de águas.

Com eleições marcadas para 20 de Fevereiro é sensato que toda a gente, prioritariamente, se preocupe com a proximidade do acto e que os clubes de futebol, por desconcentração, acabem a ceder pontos importantes em desafios que disputem em Coimbra ou na Madeira. É compreensível que o sistema político seja de novo posto em causa e as suas desvirtualidades ditas e reditas. Mas não é a altura para promover nenhuma revisão e decidir que os golos marcados fora de casa valem a dobrar como na liga dos campeões. Excepção naturalmente feita aos Drs. António Barreto e Vasco Pulido Valente que, descontentes com os resultados do campeonato, suspenderam o pagamento de quotas e, em público, rasgaram os cartões de sócios e exigem o despedimento do treinador e de metade do plantel, sem nenhuma indemnização.

Os partidos políticos afadigaram-se na preparação de listas, que já apresentaram. Convidaram, desconvidaram, transferiram a custo zero aproveitando a caducidade de alguns contratos. Os treinadores entenderam que o deputado A pode render mais como central, em Coimbra, do que como médio direito em Faro. Que o parlamentar B poderá ser um eficaz ponta-de-lança em Bragança quando não passou de um desajeitado defesa direito em Portalegre. Que o apagado orador C, por Beja, com o seu arrastado sotaque alentejano, poderá dar um eficiente levanta e senta pelo Porto. Algumas compreensíveis altercações foi havendo, como sempre, na elaboração das listas. Portugal é um país de voluntariosos candidatos a lugares e mordomias. A competência e o patriotismo são medidos pelo ordenado que se arrecada, pelas viagens que se fazem e pelos automóveis que se usam. Os cartões de crédito até já trazem estampada a bandeira nacional ao lado do período de validade que, naturalmente, ninguém tem o desaforo de contestar.

Desenhadas e apresentadas as listas os dirigentes partidários atarefam-se naquilo a que nos habituaram. Afirmando a sua competência e reafirmando a incompetência do adversário. Afirmando-se ateus, solicitando audiências aos bispos e rezando terços em honra de Nossa Senhora. Prometendo a subida de divisão ao Carcavelinhos e a superliga ao Salgueiros, nem que seja a troco de uns terrenos com os quais, que se saiba, o Dr. Vale e Azevedo não teve nada a ver. Recusam-se desafios para debates sob a alegação de que um candidato a primeiro-ministro se não confronta com um reles pretendente a um assento em S. Bento. Sendo certo que o cargo de primeiro-ministro existe, as eleições para ele é que são feitas num clube de bairro, numa sexta-feira à noite, enquanto se palitam os dentes, se saboreia a bica e se fuma o cigarro que o decreto ainda não proibiu. Além disso os partidos políticos, como organizações que nós, pobres contribuintes, sustentamos, arrogam-se posições de idoneidade, aspiram a formar governo mesmo quando apenas têm dois deputados. E nesse contexto anunciam medidas, solicitam contributos a quantos sábios o país ainda mantém vivos e indigitam personalidades para redigirem promissores programas de governo. Sem erros de ortografia mas transbordando de vícios de gramática.

Assim sendo, nada mais natural do que fazer a viagem de circum-navegação, aportando aos sítios que cada partido oferece nesta malha globalizada que é a internet. Para sabermos o elenco que nos oferecem para o filme e vermos se nos agrada o argumento que nos propõem, sob a forma honesta de programa de governo. Para nos esclarecermos e para decidirmos. É a isso que vão dedicar-se os próximos apontamentos. Este é só a introdução do propósito.

1 Comentários:

Às 5:04 da tarde , Anonymous Anónimo disse...

Toda a maquina partidária esta a desenvolver-se para as eleições que se aproximam. Com toda a força! Vamos ver!
Luis Villas

 

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