O guarda-livros
Carlos Lacerda, brasileiro, antigo jornalista e governador da Guanabara, não me consta que tenha inspirado Jorge Amado para que escrevesse O Cavaleiro da Esperança ou Os Subterrâneos da Liberdade. Afirmou-se como homem politicamente de direita e escreveu, seriamente, com essa inclinação e assim também governou um dos Estados do Brasil. Mesmo depois de ter militado pelas esquerdas.
Devo-lhe, perdida numa das páginas da revista Manchete, aquela que considero ainda hoje uma das mais brilhantes caricaturas de António Salazar, o próprio, o natural de Santa Comba Dão. Escrevia ele que Salazar poderia ser comparado a um dirigente de um clube de futebol. Tinha primeiro sido eleito para o cargo de tesoureiro e tinha realizado trabalho meritório. Pagou dívidas, reduziu despesas, pôs contas em dia, deu credibilidade às descontroladas finanças da colectividade, contribuiu para que esta passasse a ser considerada pessoa de bem.
Quando o julgaram como tesoureiro entenderam, erradamente como se viu, que um homem que fora capaz de um tal desempenho naquelas funções seria certamente providencial como presidente e levaria a colectividade à glória. Certamente contrataria os melhores jogadores ao mais baixo preço, venceria jogos e competições, contribuiria para que aumentassem honorários cobrados por encontro, encheria os cofres de ouro e de desafogo. Falharam!
Como presidente António Salazar continuou a exibir os seus aplaudidos atributos de tesoureiro. Contraiu despesas, eliminou o défice, acumulou barras e barras de ouro, confessou o orgulho de tais sucessos, de joelhos e de mãos postas, perante um cardeal que, de facto, parecia ter também vocação de amanuense. Quanto ao resto, sabe-se no que deu. As barras de ouro não se multiplicaram, os índices de natalidade mantiveram-se elevados e a mortalidade infantil também, os portugueses mantiveram-se analfabetos e mesmo assim desertaram, não foi capaz de ter uma visão história do mundo em que viveu. Teve ideias, de todo erradas, mas teve-as. As ideias da classe política que hoje sistematicamente nos engana esgotam-se na etiqueta das cuecas, no corte do fato e no padrão da camisa. Morrendo, por vezes, no fio da navalha de um qualquer cabeleireiro ao serviço da D. Isabel Queirós do Vale.
Aquilo de que urgentemente necessitam as finanças públicas do país é de um guarda-livros. À moda antiga, usando manguitos que lhe protejam os cotovelos da camisa de algodão, que seja capaz de equilibrar as contas e de se orgulhar disso. Que seja suficientemente honesto para poder lidar com dinheiro que lhe não pertença, sem a tentação do desvario e do desfalque. Que não persiga o benefício balofo das mordomias, que não aspire a automóveis de topo de gama, que não inveje a D. Júlia Pinheiro pela frequência com que aparece na televisão. Mesmo que seja para responder a um raro burro dos autênticos.
Não se sabe é onde poderá recrutar-se, mesmo sem concurso, um tal guarda-livros. Mas tenhamos como certo que nenhumas eleições resolverão nada, que a apregoada renovação partidária não levará ao paraíso porque não é feita, que invocar reformas em sentido lato não conduzirá a que se tenham ideias claras sobre os assuntos e a formas estruturais de os resolver. A tribo dos profissionais da política continuará a ser um restrito grupo de alquimistas que tem por divisa o salve-se quem puder. E que sai de cena sempre na expectativa de que a porta seja fechada por quem vier a seguir.
Devo-lhe, perdida numa das páginas da revista Manchete, aquela que considero ainda hoje uma das mais brilhantes caricaturas de António Salazar, o próprio, o natural de Santa Comba Dão. Escrevia ele que Salazar poderia ser comparado a um dirigente de um clube de futebol. Tinha primeiro sido eleito para o cargo de tesoureiro e tinha realizado trabalho meritório. Pagou dívidas, reduziu despesas, pôs contas em dia, deu credibilidade às descontroladas finanças da colectividade, contribuiu para que esta passasse a ser considerada pessoa de bem.
Quando o julgaram como tesoureiro entenderam, erradamente como se viu, que um homem que fora capaz de um tal desempenho naquelas funções seria certamente providencial como presidente e levaria a colectividade à glória. Certamente contrataria os melhores jogadores ao mais baixo preço, venceria jogos e competições, contribuiria para que aumentassem honorários cobrados por encontro, encheria os cofres de ouro e de desafogo. Falharam!
Como presidente António Salazar continuou a exibir os seus aplaudidos atributos de tesoureiro. Contraiu despesas, eliminou o défice, acumulou barras e barras de ouro, confessou o orgulho de tais sucessos, de joelhos e de mãos postas, perante um cardeal que, de facto, parecia ter também vocação de amanuense. Quanto ao resto, sabe-se no que deu. As barras de ouro não se multiplicaram, os índices de natalidade mantiveram-se elevados e a mortalidade infantil também, os portugueses mantiveram-se analfabetos e mesmo assim desertaram, não foi capaz de ter uma visão história do mundo em que viveu. Teve ideias, de todo erradas, mas teve-as. As ideias da classe política que hoje sistematicamente nos engana esgotam-se na etiqueta das cuecas, no corte do fato e no padrão da camisa. Morrendo, por vezes, no fio da navalha de um qualquer cabeleireiro ao serviço da D. Isabel Queirós do Vale.
Aquilo de que urgentemente necessitam as finanças públicas do país é de um guarda-livros. À moda antiga, usando manguitos que lhe protejam os cotovelos da camisa de algodão, que seja capaz de equilibrar as contas e de se orgulhar disso. Que seja suficientemente honesto para poder lidar com dinheiro que lhe não pertença, sem a tentação do desvario e do desfalque. Que não persiga o benefício balofo das mordomias, que não aspire a automóveis de topo de gama, que não inveje a D. Júlia Pinheiro pela frequência com que aparece na televisão. Mesmo que seja para responder a um raro burro dos autênticos.
Não se sabe é onde poderá recrutar-se, mesmo sem concurso, um tal guarda-livros. Mas tenhamos como certo que nenhumas eleições resolverão nada, que a apregoada renovação partidária não levará ao paraíso porque não é feita, que invocar reformas em sentido lato não conduzirá a que se tenham ideias claras sobre os assuntos e a formas estruturais de os resolver. A tribo dos profissionais da política continuará a ser um restrito grupo de alquimistas que tem por divisa o salve-se quem puder. E que sai de cena sempre na expectativa de que a porta seja fechada por quem vier a seguir.
2 Comentários:
Guarda livros sério sem uma visão história da realidade em que vive? Um bota-de-elástico honesto?... assim de repente o nome Rui Rio vem-me à ideia...
Nunca houve tantos Guarda-Livros governamentais como agora, até há quem diga que já é uma profissão de sucesso e com muita saída.Bom fim de semana. Um abraço. Luis Villas.
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