Balanços
Como o Dr. Rio deve ter aprendido nas aulas de teoria da contabilidade o Balanço é uma peça contabilística que se elabora por obrigações fiscais em 31 de Dezembro de cada ano e que, linearmente, permite determinar os resultados obtidos no exercício: lucros ou prejuízos. Antigamente a contabilidade regia-se por normas e por princípios que se diziam geralmente aceites. Até que os licenciados em direito tivessem começado a defender que se aprendia mais de contabilidade num ano de teoria do direito do que com quatro chumbos seguidos subscritos pela pena implacável do saudoso professor Manuel Baganha. E que, com a inércia no movimento - para não dizer balanço! - os corretores da bolsa falassem em engenharia financeira e os governantes em contabilidade criativa. O que significa atropelar princípios, cilindrar normas e contabilizar como receitas nossas as vendas do vizinho e como rentável a exploração do comércio a retalho de produtos alimentares que, afinal, apresenta lucros à custa da venda de monumentos nacionais e da realização de espectáculos de ópera do teatro de S. Carlos.
Aproveitando a altura toda a gente adquiriu o hábito de fechar portas no início do ano, afixar um dístico qualquer a dizer "encerrado para balanço" e enclausurar os empregados no interior, à porta fechada, a contar parafusos, a pesar batatas e a medir intermináveis peças de riscado para aventais. Com a evolução tecnológica os períodos de fecho foram encurtados, as más vendas de Dezembro apertam, as promoções para escoar existências urgem. Mas, paralelamente, toda a gente hoje faz balanços da sua actividade e da actividade do próximo - geralmente do próximo! - porque sempre foi muito mais fácil ver o aguilhão no olho do vizinho do que no seu próprio.
Hoje, indignado como lhe permite a expressão do Dr. Soares e inflamado pela aparente falta de um qualquer calmante mesmo fraquinho, o chefe de gabinete do presidente da Câmara do Porto faz no Jornal de Notícias o seu próprio balanço, salientando que isso é sinónimo de fim de ano e, naturalmente - acrescento eu - de reveillon, de borga, de regresso a casa na manhã do dia de Ano Novo. E adianta logo, coisa rara e pouco isenta, que os balanços estão ligados ao registo psicológico de quem os faz e aos objectivos com que se fazem. Uma forma dissimulada de dizer que também os balanços são "criativamente" manipulados e que um residente do Hospital Magalhães Lemos há-se fazer, sobre a gestão da autarquia, uma avaliação distinta da que certamente fará o Ricardo Carvalho, mesmo habituado a jogar à defesa, mas ausente em terras de sua majestade.
Consequência lógica, adianta que há os balanços dos eternos descontentes, dos genético-deprimidos, dos crónicos pessimistas e dos outros, como os patetas alegres, os optimistas por opção, os realistas conscientes e os etc. Ficando por especificar essa dos etc e por explicar a dos genético-deprimidos que, confesso, é areia demais para o carro de mão em que despejo as ideias próprias. Mas, falha de todo imperdoável, não revela o chefe de gabinete em qual dos grupos se deve incluir o seu próprio balanço. Apenas refere que o motiva, indignado, um balanço que leu nas páginas do mesmo jornal sobre a gestão da cidade. Há quem se indigne com os árbitros e lhes insulte a família, quem se desconcerte com os treinadores e lhes exija o despedimento, quem se amofine com as colunas dos jornais e lhes rasgue as folhas. É tudo isso tão legítimo como, nos dias que correm, eleger deputados da união nacional ou votar num qualquer grupelho tão à esquerda que dá o braço a um correligionário do Dr. Portas. Mesmo que possa pecar por alguma irracionalidade e pela falta do tal fármaco.
Expurgando a genética da depressão e a patetice da alegria, o chefe de gabinete sugere que quem vive no Porto diariamente e avalia com isenção o que tem mudado não pode deixar de reconhecer que, por acção directa ou indirecta da autarquia, a diferença é enorme. E depois enumera aquilo a que ele próprio chama os grandes cancros da cidade e reclama para a gestão do seu patrono o mérito de lhes vir a pôr termo de forma sustentada, seja esta sustentação aquilo que ele quiser que seja! Mas, de razoável dimensão, não refere um projecto, uma ideia ou um conceito que pertençam a esta vereação e que nos tragam, objectivamente, um modelo para a cidade.
Como ele mesmo diz, mal vai um país - melhor dito, mal vai o país - e pior vai a cidade que tendo adquirido o estatuto de património mundial está entregue a esta apagada e vil tristeza. Nas mãos da especulação imobiliária e da sociedade recreativa dos construtores civis. A defender-se com pseudónimo a que, em todo o caso, se reconhece como inconfundível "his master voice"!
Aproveitando a altura toda a gente adquiriu o hábito de fechar portas no início do ano, afixar um dístico qualquer a dizer "encerrado para balanço" e enclausurar os empregados no interior, à porta fechada, a contar parafusos, a pesar batatas e a medir intermináveis peças de riscado para aventais. Com a evolução tecnológica os períodos de fecho foram encurtados, as más vendas de Dezembro apertam, as promoções para escoar existências urgem. Mas, paralelamente, toda a gente hoje faz balanços da sua actividade e da actividade do próximo - geralmente do próximo! - porque sempre foi muito mais fácil ver o aguilhão no olho do vizinho do que no seu próprio.
Hoje, indignado como lhe permite a expressão do Dr. Soares e inflamado pela aparente falta de um qualquer calmante mesmo fraquinho, o chefe de gabinete do presidente da Câmara do Porto faz no Jornal de Notícias o seu próprio balanço, salientando que isso é sinónimo de fim de ano e, naturalmente - acrescento eu - de reveillon, de borga, de regresso a casa na manhã do dia de Ano Novo. E adianta logo, coisa rara e pouco isenta, que os balanços estão ligados ao registo psicológico de quem os faz e aos objectivos com que se fazem. Uma forma dissimulada de dizer que também os balanços são "criativamente" manipulados e que um residente do Hospital Magalhães Lemos há-se fazer, sobre a gestão da autarquia, uma avaliação distinta da que certamente fará o Ricardo Carvalho, mesmo habituado a jogar à defesa, mas ausente em terras de sua majestade.
Consequência lógica, adianta que há os balanços dos eternos descontentes, dos genético-deprimidos, dos crónicos pessimistas e dos outros, como os patetas alegres, os optimistas por opção, os realistas conscientes e os etc. Ficando por especificar essa dos etc e por explicar a dos genético-deprimidos que, confesso, é areia demais para o carro de mão em que despejo as ideias próprias. Mas, falha de todo imperdoável, não revela o chefe de gabinete em qual dos grupos se deve incluir o seu próprio balanço. Apenas refere que o motiva, indignado, um balanço que leu nas páginas do mesmo jornal sobre a gestão da cidade. Há quem se indigne com os árbitros e lhes insulte a família, quem se desconcerte com os treinadores e lhes exija o despedimento, quem se amofine com as colunas dos jornais e lhes rasgue as folhas. É tudo isso tão legítimo como, nos dias que correm, eleger deputados da união nacional ou votar num qualquer grupelho tão à esquerda que dá o braço a um correligionário do Dr. Portas. Mesmo que possa pecar por alguma irracionalidade e pela falta do tal fármaco.
Expurgando a genética da depressão e a patetice da alegria, o chefe de gabinete sugere que quem vive no Porto diariamente e avalia com isenção o que tem mudado não pode deixar de reconhecer que, por acção directa ou indirecta da autarquia, a diferença é enorme. E depois enumera aquilo a que ele próprio chama os grandes cancros da cidade e reclama para a gestão do seu patrono o mérito de lhes vir a pôr termo de forma sustentada, seja esta sustentação aquilo que ele quiser que seja! Mas, de razoável dimensão, não refere um projecto, uma ideia ou um conceito que pertençam a esta vereação e que nos tragam, objectivamente, um modelo para a cidade.
Como ele mesmo diz, mal vai um país - melhor dito, mal vai o país - e pior vai a cidade que tendo adquirido o estatuto de património mundial está entregue a esta apagada e vil tristeza. Nas mãos da especulação imobiliária e da sociedade recreativa dos construtores civis. A defender-se com pseudónimo a que, em todo o caso, se reconhece como inconfundível "his master voice"!
2 Comentários:
Abomino o PSD, mas tenho o Dr. Rio por um homem sério!
Nunca disse considerar o Dr. Rio um homem desonesto. Nem sequer o seu chefe de gabinete, mesmo que este seja, neste caso, a voz do dono. Há apenas uma alegoria no que respeita à formação do Dr Rio, que é economista. E que, tecnicamente, se deve ainda recordar daquilo que é um balanço. Hoje politicamente subvertido pela política e pelo défice orçamental, este criminoso. Sob a capa duma alegada e alegórica "criatividade". De resto, pessoalmente, nem sequer abomino nada nem nenhuma coisa!
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