29 de dezembro de 2004

Simples!

Muito simples! Uma pequena notícia na edição do JN de hoje revela que Angola exportou oficialmente, durante o ano em curso, 246,5 milhões de barris de petróleo ao preço médio de 35 dólares. O que representa uma receita de 8.627.500.000 dólares. Como ontem cada euro valia 1,3633 dólares aquela importância representa 6.328.394.337 euros. Como, em termos saudosistas, cada euro vale 200,482 escudos a conversão para a nossa antiga moeda dá-nos 1.268.729.153.524 escudos, ou sejam cerca de 1.268 milhões de contos.

Para que continue a ser simples! De acordo com dados oficiais, embora estimados, a população de Angola rondaria no ano de 2000 os 12.000.000 de habitantes. Nos países mais atrasados e mais pobres - para se evitar a estupidez do eufemismo "em vias de desenvolvimento" - aceita-se demograficamente que a respectiva população possa duplicar em cada 25 anos. O que quer dizer que em 2004 a população de Angola, também estimada, poderia ser computada em cerca de 13.920.000 habitantes.

Ainda simples, para que alguém possa explicar isto ao comissário europeu em Bruxelas e ao Dos Santos no Futungo de Belas! A divisão do valor de 1.268.729.153.524 escudos por 13.920.000 habitantes dá uma receita média de cerca de 91.144 escudos, ou sejam cerca de 7.600 escudos mensais, ou 250 escudos diários, por pessoa, apenas resultantes das exportações de petróleo bruto, oficialmente divulgadas.

Linearmente, esta seria o rendimento individual apenas resultante das exportações de petróleo, se fosse uniformemente distribuído. Mas Angola tem outras riquezas e produz outras coisas, mesmo que o petróleo seja a mais significativa. E a verdade ainda é que um qualquer cuanhama não trabalha para esta produção de riqueza tanto e tão afincadamente com a pandilha que desgoverna o país e se locupleta com a maior fatia deste rendimento.

Assim sendo será razoável que umbundos, kimbundus e até cuanhamas sucubam vítimas da subnutrição e da fome. Enquanto em Luanda, no palácio da cidade alta, o Dos Santos casa as filhas e convida os amigos da estranja para o marisco e o champanhe francês. Para também acabar simples!

1 Comentários:

Às 6:02 da tarde , Anonymous Anónimo disse...

Permite-me dois esclarecimento que julgo serem necessários.

Em primeiro lugar, o dinheiro proveniente da venda do petróleo vai maioritariamente para as empresas petrolíferas que o exploram. O país que as aceita (ou a quem é imposta esta exploração) recebe entre 1% e 15%. Neste último saco conheço o caso da Venezuela, que recentemente aumentou para 15% o valor da royalty a cobrar à petrolíferas e mais uma vez enfureceu o "nosso" e "caro" Dubya. Mais uma tentativa de golpe de estado teria sido perpretada não tivesse Chavez acabado de ser re-aprovado no referendo de 2004.

Portanto dos 250$ por dia por habitante teríamos entre 2$50 e 37$50. Pouquito...

Por outro lado a percentagem arrecadada para o Estado é distribuída maioritariamente de duas formas. Uma é obviamente a corrupção. Mas nem tudo vai para o bolso do presidente e dos seus familiares e amigos, nem sequer acredito que a maioria vá para esse poço sem fundo. O pouco que é gasto é-o de certeza (e digo isto sem conhecer o caso em particular mas apenas por indução de casos que conheço de outros países) em grande parte próxima dos locais de exploração de petróleo ou seja, em Cabinda. Que além de ser um enclave ainda se julga com direito a uma fracção maior dos lucros do petróleo, pelo que há muitos que pedem a independência para aquele minúsculo mas importante território.

Portanto... não é por aqui que o povo Angolano vai ficar rico. E muito menos pelos diamantes. É certo que são boas formas de dar impulso à economia angolana mas (infelizmente) não é através de passar cheques a quem morre à fome mas sim através do investimento público na educação (sempre o principal), infraestruturas, saúde, etc.

Mas nem isso Angola consegue e não está sozinha. Não ajuda quando o FMI concede crédito para projectos falhados à partida. Não ajuda quando o FMI exige taxas de juro altas para manter a inflação baixa, dando toda a importância à estabilização (como se valesse a pena estabilizar a situação desesperada de Angola) e nenhuma ao crescimento. Não ajuda quando países como Angola são obrigados a privatizar ou a simplesmente encerrar empresas estatais simplesmente porque o FMI assim o exigiu. Ou a serem obrigados a cobrar propinas em escolas a crianças que não o podem e cuja única alternativa é não ir à escola.

E há quem diga "São pretos, deram cabo de tudo, podiam ser ricos". Gente parva que diz coisas assim não percebe puto disto e não vê que a culpa é de empresas e instituições ocidentais, branquinhas, niveas. (Não estou a dizer que tu o disseste, estou a falar de forma geral :-)

Se me permites vou incluir esta resposta no meu blog.

Dito Cujo http://ditocujo.weblog.com.pt/

 

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