9 de março de 2006

Dia da mulher

Com atraso e à minha maneira, só hoje aqui venho para assinalar aquilo a que as figuras ilustradas deste mundo-cão entenderam por bem designar por dia da mulher. Faço-o, obviamente, porque sou homem e não quero que, pela minha parte, a culpa morra solteira ou me possa pesar a consciência de alijar responsabilidades. O dia internacional da mulher, mais que uma hipocrisia, é uma invenção estúpida que nunca ganhou prémios em salões nacionais ou internacionais de inventores.

Durante 364 dias do ano - e vamos excluir os anos bissextos por causa das dificuldades de compreensão das gerações rurais e dos jogos olímpicos - os homens passam a vida a perseguir as mulheres, a repetir que as louras são burras e que as morenas não são inteligentes, a afirmar com um solene ar machista nos seus círculos de amigos que "são dos que gostam de mulheres", a divisar gajas a que chamariam um figo nos passeios, nas paragens dos transportes públicos, no metro e nos comboios da linha de Sintra. E depois, muitas vezes, vê-se onde jaz a masculinidade e o perfume do tão activo gosto por mulheres.

Os homens politicamente defendem quotas de atribuição de lugares às mulheres e não reclamam destas a igualdade de tratamento. Chamam parlamento às assembleias e deputados aos seus membros e quando algum, envergonhadamente, se refere à colega deputada isso suscita sorrisos enviesados e sugere a condição de velha profissional do engate e da cambalhota. Associam-se das mais variadas maneiras e feitios, na ordem dos médicos, dos engenheiros, dos arquitectos. Nunca se ouviu falar da ordem das médicas, das engenheiras ou das arquitectas. E quando se fala em algum sindicato de mulheres logo alarvemente se invoca o sindicato das putas, mas nunca o dos filhos. Tirando isso, lá se vai tolerando o sindicato das domésticas, com poucas regalias e quase nenhuns direitos.

Os homens que se vestem de mulheres são apelidados de travestis e de coisas muitos piores, que a hora a que escrevo me não permite enunciar, por causa das criancinhas que ainda estão de volta do prato da sopa. Outros consideram-nas tanto que nem para acasalar as querem e perseguem aturados trabalhos de investigação que possibilite uma forma mais original de fazer filhos do que aquela que por uma vez utilizou o antigo deputado do CDS João Morgado. Os homens, se os deixarem e se a virilidade lhes for sustentada à custa da química e do pau de Cabinda, comem as mulheres todas. Sem respeito por raças, credos, cores, idades ou laços de sangue. Depois dedicam-lhes um dia por ano a que chamam delas e, se não tivessem mais olhos que barriga, comiam-nas todas nesse dia. E alguns, mais gabarolas, não deixam mesmo de se gabar disso. Porra!

2 Comentários:

Às 5:53 da tarde , Anonymous Anónimo disse...

Obrigada LFV por ler ALGO de bom acerca deste dia escrito por um Homem.......................de uma mulher

 
Às 5:36 da manhã , Anonymous Anónimo disse...

Realmente seutexto disse tudo

 

Enviar um comentário

Subscrever Enviar feedback [Atom]

<< Página inicial