18 de março de 2009

Barqueiros

Até há dias o país não ouvira falar de Barqueiros e menos ainda na escola que leva o sinistro nome da Lagoa Negra. Até o ignorado presidente da Junta de Freguesia ter achado que não seria de todo muito normal ter 17 crianças de etnia cigana enjauladas num contentor, plantado no pátio, a tentar aprender a cartilha do Sr. João de Deus. E não hesitou nos qualificativos, classificando linearmente a situação como de segregação.

A primeira reacção pública, creio, veio da DREN. Sendo que DREN quer dizer Direcção Regional de Educação do Norte ou Margarida Moreira, o que vem a dar no mesmo. Exímia no uso da língua portuguesa, como já anteriormente certificara o Sr Vasco Pulido Valente, a senhora não deixou méritos por mãos alheias e negou tudo, à boa maneira do Sr Jô Soares e dos seus saudosos programas.

O Sr Presidente da Junta saberia do chafariz da terra, dos cadernos eleitorais porque vai haver eleições e, provavelmente, até da agenda do pároco e dos horários das missas. Mas de educação sabia zero e,pior do que isso, nem sequer tivera o cuidado de se informar.

Primeiro o contentor não é um contentor, mesmo que o pareça. Mas, como se sabe, nem sempre o que parece é e, sendo assim, é um monobloco, seja lá isso aquilo que for. Porque o ouvi já chamar a cofres que, apesar disso, são estruncados e a automóveis que, nem por isso, deixam de ter o seu preço agravado com impostos, a bem da nação, do governo e da avaliação dos professores. Depois o que foi feito teve o consentimento dos pais das crianças que aplaudiram o uso do tal monobloco, dotado de porta e de janelas gradeadas à frente e atrás, que asseguram a integridade dos seus filhos contra a hipotética intrusão de cães vadios, gatas com cio ou mesmo remotos descendentes dos povos celtas. Para não falar no lobo ibérico e no lince da Malcata!

E sendo discriminação, apesar de tudo, valha-nos Deus e a D. Margarida Moreira: é positiva! O que quer dizer que a discriminação é como a temperatura, podendo ser negativa ou positiva. O que, por outro lado, implica uma discriminação negativa. A daqueles a quem não é permitida a segurança oferecida pela gaiola. Fosse eu pai de um dos alunos que utilizam as salas de aula normais e estaria revoltado. Não me conformaria, revoltar-me-ia mesmo, com o facto de ter um filho discriminado negativamente!

2 Comentários:

Às 9:45 da tarde , Blogger contradicoes disse...

Contundente como sempre sem descurar o excelente tom sarcástico que empresta à abordagem.
Um abraço

 
Às 8:21 da tarde , Anonymous Anónimo disse...

E é assim.. e nem vamos falar no começo das obras em muitas escolas em pleno inicio de aulas.. ou seja, deixou-se passar os 3 meses de férias escolares e não se mexeu uma palha e quando as aulas começam.. ai sim começa-se a construção da escola.. enfim.. também digo, mais vale um contentor novo, que uma escola que nem uma cadeira ser sem ferrugenta tem..

 

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