O País
De regresso, moderado e lento, vejo que o País continua caótico. Graças a Deus e a Sócrates. Pretencioso, cheguei a pensar que poderia melhorar com a minha ausência. E carrilar definitivamente se eu conseguisse um exílio em Bruxelas como impedido do Dr José Manuel Barroso e, como ele, me afastasse. Pura ilusão! Tudo continua na mesma, para pior. A única coisa que segue, imparável, na senda do progresso é a crise. Crise daqui, dali e dacoli. Ao arrepio do ministro da economia, dos seus arrepiantes decretos a por-lhe termo e dos muitos cavalos dos seus automóveis de serviço. E não só.
De resto, pouco ou nada mudou. De Bruxelas o Dr Barroso assegura aos seus amigos que o País só não é dos mais desenvolvidos do mundo porque ele próprio se impediu de completar o mandato e, de seguida, o seu compadre Santana foi posto na rua exactamente quando preparava em S. Bento a última ceia com as debutantes da linha, para dar início às festividades comemorativas. De cócoras, a neutralidade Suiça treme só de saber que ele o diz e teme sentir-se ao nível do Biafra se ele o fizer. A norte a Noruega maldiz a sorte madrasta de ter recusado a União Europeia e o governo irlandês pede desculpas pelo referendo e pelos resultados a que este levou, seguramente sem efeito e sem futuro. Porque a Europa é mais uma moradia unifamiliar, num loteamento de arrabalde, projectada para os lados do Fundão, do que uma cruz mal desenhada pelo eleitor irlandês num boletim de voto.
Entrementes pode parecer que o País terá perdido um seleccionador de futebol, o que não é verdade. O homem até é brasileiro, não ratificou o acordo ortográfico, tem apelido meio italiano e escreve o nome horrorosamente com um e: Felipe. Como se isto pudesse ser questão a incluir no programa "Em bom português", nos exames finais do ensino secundário ou nos chás de menta da socialite de Cascais. O País nem sequer perdeu um jogo com a Alemanha, um conjunto de rapazes altos, louros e brutos que, ao abrigo das leis europeias, às vezes vão a repouso ou a outras porcarias aos apartamentos da Quinta do Lago. O País pura e simplesmente foi espoliado quando a pessoa indicada para convocar os jogadores adversários e nomear os árbitros está, como se sabe do Minho a Timor, subaproveitada a dirigir a Câmara de Gondomar. Uma terra que se não sabe bem onde fica, tinha há poucos anos apenas um estreito carreiro que a ligava ao Porto e ao Sr Pinto da Costa e exibia a incompreensível notoriedade de realizar um concurso anual de sopa de nabos.
A educação continua confiada à mesma senhora ministra, uma espécie zoológica rara mas inteligente, ainda por classificar, e que acumula reformas. Como funcionária, em milhares de euros. Como política em centenas de decretos e milhares de disparates que nem mesmo os primatas mais dotados de Sete Rios, com a melhor das boas vontades, conseguem entender. Apesar dos três períodos escolares, do rigor dos exames de avaliação e dos seis frascos de Centrum. Proclamou a senhora ministra, e bem, que os alunos têm direito ao sucesso, a aprender sem o auxílio de livros, a prescindir e mesmo a denunciar os professores sem experiência e sem currículo como o Dr Louçã. Determinou ainda, e bem, que fossem excluídos da correcção dos exames todos os professores cujas notas, por eufemismo, se afastassem da média mais que um indefeso cagagésimo, fosse por defeito, fosse por excesso. No próximo ano, testados os procedimentos e rodados os carros de alta cilindrada do seu gabinete, a senhora ministra, à altura já zoologicamente classificada segundo se espera, determinará também a exclusão dos professores cujas notas se afastem e cujas notas se não afastem de todas as médias. Cada aluno terá direito ao sucesso que desejar, feito à sua medida, como os fatos que os alfaiates antigamente costuravam. Para rigor e perfeição do sistema!
6 Comentários:
Aqui nao esta nada diferente!
E alem do mais quando alguem tenta se manifestar por algum meio, logo vem "eles" pra fechar nossas bocas, como aconteceu com o blog:povoaonline dai de Portugal!
Abraços.
Sandra
Brilhante e acutilante como sempre.
Não perdeste qualidades, apesar de mais cabelos brancos.
Um abraço
Jorge
Mais uma vez, parabéns!
Continua!
Um abraço,
Fátima
JLF
Deixei um comentário educado, civilizado, de amizade, no post anterior.
Lamento que ele tenha desaparecido.
Só te deixo esta nota porque conhecendo-te de há muito, te dou o benefício da dúvida.
O maior sucesso para o Cabo Raso
As letras JLF não me permitem identificar quem diz conhecer-me de há muito tempo, o que também lamento. Intentando fazer regressar o Cabo Raso, nunca me moveu nenhuma intenção de censura de que eu próprio fui vítima em épocas e locais passados. E quem me conhece de há muito certamente me conhece o suficiente para não precisar de me dar nenhum benefício da dúvida. Mesmo assim as minhas desculpas, porque não quis magoar ninguém ou tão pouco ferir susceptibilidades...
...tal como o Jorge disse...brilhante e acutilante...
mais palavras?...desnecessario...
bjinho
Rosario
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