Regresso aos castelos
Regresso
aos castelos sempre que posso e cada retorno é uma nova descoberta. Entro, como
sempre, pela porta de Santarém para, antes de iniciar a subida de acesso, poder
deter-me lá em baixo, junto à capela, sob a azinheira, admirando a imponência
das torres de vigia do paço dos condes, erguendo-se do penhasco. Depois,
encolhendo-me, venço a porta e viro à direita, para ir dar ao parque fronteiro
ao castelo e ao paço. Hoje, que o dia está de chuva, é ali que te encontro e
que te estendo a mão para que me preenchas este vazio e me acompanhes na
visita. No terreiro é a estátua do terceiro conde de Ourém, o Condestável, que
domina a paisagem. Minha mãe nomeava todas as aldeias espalhadas em volta,
sabia-lhes o nome, percorrera-as todas quando, a pé, se faziam todos os
caminhos. Devasso cada canto, atento a cada pormenor, dou a volta a cada torre,
miro a cidade exposta lá em baixo, no fundo do vale. Aventuro-me pela encosta
íngreme, fincando os pés, agarrando-me aos medronheiros, enquadrando a
fotografia.
Desço à colegiada, admiro a bela austeridade da frontaria da igreja, percorro-lhe com recato o interior sempre ornamentado com flores novas. Visito o túmulo do conde, o quarto, D. Afonso, o mais notável de todos, o que edificou o paço, o que fez do monte o centro de um mundo que era o seu. Pela viela vou ao pequeno jardim que se debruça sobre a planície, procuro a beleza exuberante dos brincos de princesa florindo junto ao muro, olho com nostalgia a pequena fonte de que não sei a idade. Embevecido ergo os olhos até à minha janela, a que me fascina, a única aberta para o largo, sobranceira, no branco imaculado da cal da parede. Tão perfeita que parece ter sido D. Manuel a mandá-la abrir para poder estender o olhar pelas redondezas. Pela mão levo-te à taberna que fica a uma das esquinas do pequeno largo. Não é medieval a ginginha fresca que ali nos servem na casca de uma meia laranja. Apenas o são a fonte, com um arco de ogiva perfeita, sempre a jorrar água e a estreita porta da vila por onde saímos. Debruçada sobre o vale onde a cidade se espraia à espreita do tempo de sol. É sempre como um regresso a casa.
0 Comentários:
Enviar um comentário
Subscrever Enviar feedback [Atom]
<< Página inicial