9 de fevereiro de 2024

Regresso aos castelos

Regresso aos castelos sempre que posso e cada retorno é uma nova descoberta. Entro, como sempre, pela porta de Santarém para, antes de iniciar a subida de acesso, poder deter-me lá em baixo, junto à capela, sob a azinheira, admirando a imponência das torres de vigia do paço dos condes, erguendo-se do penhasco. Depois, encolhendo-me, venço a porta e viro à direita, para ir dar ao parque fronteiro ao castelo e ao paço. Hoje, que o dia está de chuva, é ali que te encontro e que te estendo a mão para que me preenchas este vazio e me acompanhes na visita. No terreiro é a estátua do terceiro conde de Ourém, o Condestável, que domina a paisagem. Minha mãe nomeava todas as aldeias espalhadas em volta, sabia-lhes o nome, percorrera-as todas quando, a pé, se faziam todos os caminhos. Devasso cada canto, atento a cada pormenor, dou a volta a cada torre, miro a cidade exposta lá em baixo, no fundo do vale. Aventuro-me pela encosta íngreme, fincando os pés, agarrando-me aos medronheiros, enquadrando a fotografia.

Desço à colegiada, admiro a bela austeridade da frontaria da igreja, percorro-lhe com recato o interior sempre ornamentado com flores novas. Visito o túmulo do conde, o quarto, D. Afonso, o mais notável de todos, o que edificou o paço, o que fez do monte o centro de um mundo que era o seu. Pela viela vou ao pequeno jardim que se debruça sobre a planície, procuro a beleza exuberante dos brincos de princesa florindo junto ao muro, olho com nostalgia a pequena fonte de que não sei a idade. Embevecido ergo os olhos até à minha janela, a que me fascina, a única aberta para o largo, sobranceira, no branco imaculado da cal da parede. Tão perfeita que parece ter sido D. Manuel a mandá-la abrir para poder estender o olhar pelas redondezas. Pela mão levo-te à taberna que fica a uma das esquinas do pequeno largo. Não é medieval a ginginha fresca que ali nos servem na casca de uma meia laranja. Apenas o são a fonte, com um arco de ogiva perfeita, sempre a jorrar água e a estreita porta da vila por onde saímos. Debruçada sobre o vale onde a cidade se espraia à espreita do tempo de sol. É sempre como um regresso a casa.


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