Dia dos mortos
Celebra-se hoje o dia dos mortos, no dia seguinte ao de todos os santos. Os cemitérios enchem-se com as romagens, limpam-se sepulturas, ornamentam-se jazigos, depõem-se flores, há mais do que nunca recolhimento e saudade. Nas imediações a actividade agita-se, as flores atingem preços exorbitantes, as existências esgotam-se. O culto dos mortos é natural, é transversal a todas as religiões e a todas as culturas, a sua prática é muito antiga, seguramente milenar.
Mas,
todavia, não é assim com os cemitérios e com Portugal, onde aqueles espaços de
sepultura têm menos de duzentos anos. De facto o primeiro cemitério português,
considerado o primeiro cemitério romântico do país, deve-se à Venerável
Irmandade de Nossa Senhora da Lapa, centenária e prestigiada instituição da
cidade do Porto que, em 1833, pediu autorização a D. Pedro IV para criar um
espaço exterior à sua igreja para enterramento dos mortos. Isto em 1833,
durante o Cerco do Porto e em consequência de uma epidemia de cólera e da
insuficiência de espaço no interior da igreja para poder continuar a fazê-lo
aí.
O cemitério da Lapa, como é conhecido, nasceu adjacente à igreja da irmandade e é hoje um verdadeiro museu a céu aberto, havendo actualmente visitas guiadas organizadas pela instituição a que pertence. O facto deu a possibilidade de afirmação à burguesia da cidade que teve assim o ensejo de construir jazigos evidenciando ou ostentando os sinais de riqueza das respectivas famílias. O espaço foi e continua a ser de índole privada e ali repousam algumas grandes personalidades da vida local e nacional das quais se salienta, talvez, Camilo Castelo Branco que foi, por acordo com os próprios, sepultado no jazigo do seu amigo Freitas Fortuna.
O
primeiro cemitério público da cidade foi o Cemitério do Prado do Repouso,
inaugurado a 1 de Dezembro de 1839, com a transladação para monumento próprio
dos restos mortais de Francisco de Almada e Mendonça, o mais novo dos Almadas,
até essa data sepultado na igreja da Santa Casa da Misericórdia do Porto, à Rua
das Flores. É hoje também um grande museu a céu aberto onde estão sepultadas
numerosas personalidades da vida nacional. Um delas é o poeta Eugénio de
Andrade, pseudónimo do cidadão José Fontinhas, em mausoléu da autoria do
celebrado arquitecto Álvaro Siza Vieira.
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